segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Post.it: O livro antigo


Queria-vos falar do Livro, não do seu conteúdo  enquanto veiculo transportador de um texto, mas do livro como objecto histórico. Porque ele é muitas vezes isso mesmo. Hoje quando, “passeamos” o olhar pelas estantes de uma livraria, somos atraídos por um titulo, um autor, uma capa colorida. Mas no passado, o Livro antigo (obras que datam de 1501-1800), tornava-se ele próprio, história. Porque encontramos nele a história do seu caminho, do seu crescimento. Parece-nos estranho compreende-lo assim, mas é verdade o livro também cresce ao longo dos anos na informação que fica registada nas suas páginas. Desde o “nascimento” do livro no Escriptorium de um convento, passando pelo gráfico, um trabalhador ambulante que andava de terra em terra, procurando alguém que com algum poder económico lhe encomenda-se a confecção e reprodução de uma obra. O gráfico que sem oficina ainda e  com parcos conhecimentos literários, revelava vastos conhecimentos da sua arte, para colocar os caracteres móveis na forma inversa que depois iriam surgir direitinhos na grande folha de papel que dobrada em diversas partes iria constituir um caderno, sem trocar a ordem natural do texto, porque raros eram os livros desta época que tinham paginação. Cadernos que permaneciam assim para serem vendidos, sem serem cozidos, ou encapados. Cabia a quem o adquiria encomendar uma capa, mais rica ou mais pobre, em pergaminho, pele,  ou tecido, com brasão incrustado a ferro quente ou letras em fio de ouro. Quando o folheamos, estes detalhes surgem silenciosos à espera de uma observação e lenta atenta, minuciosa, e porque não, carinhosa. O texto, esse, talvez seja supra conhecido pelas diversas reimpressões, mas aquele exemplar que nos veio parar às mãos, é único, tornaram-no exclusivo pela riqueza de pormenores. Alguns quando lhe colocaram a capa acrescentaram mais um caderno com 12 dobragens correspondendo a 24 páginas em branco, isto desperta-nos a curiosidade, mas a resposta surge-nos evidente, o possuidor desse livro, quis acrescentar a sua opinião sobre a obra, inspirar-se nela para os seus escritos ou torna-lo um diário dos seus desabafos. Alguns fazem-nos sorrir pela cortesia, ou pelo tom irónico. Com que mágoa, com que delicadeza viramos cada página, encontrando aqui e ali marcas da sua vivência, assinaturas, dedicatórias, manchas de (lágrimas?) de (risos?) de velas que o iluminaram nas longas noites em que fez companhia à solidão. Páginas com texto desgastado de tão lido, de tão sentido.
E o livro de hoje? Pouco nos diz, apenas é portador de um texto literário. Tem um percurso de vida tão curto, tão desvalorizado, abandonado, lido e esquecido. Poucos lhe acrescentam algo para o futuro, talvez uma assinatura, uma mera rúbrica.
 Poucos os levam até às próximas gerações. Sem a durabilidade de materiais que tinha o livro antigo, perece depressa e sem história.
A história que o Livro já teve no seu longínquo passado, quando era um bem de riqueza, sempre presente nas casas reais e elemento obrigatório nos saques, ao lado do ouro da prata e dos diamantes. O Livro já foi um tesouro que se tornou nos nossos dias, um bem de “consumo imediato”. Felizmente que ainda posso “ler” alguns livros antigos e tocar ao de leve, a riqueza do seu passado.

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