sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Post.it: Tudo o que tenho me basta


Esta manhã que se revela pronta a ser rescrita. Este sol que me ilumina o olhar. Este azul que me oferece um teto de paz. E as nuvens, essas que chegam e partem desenhando abraços que me tocam ao de leve quando em nevoeiro descem sobre mim. Até a brisa vai soprando notícias “aos sete ventos”, não aquelas que recebemos em turbilhão quando acedemos aos media, são outras as noticias da brisa, fala da terra, das árvores que cresceram, das flores que desabrocharam, dos rios que chegaram à foz, dos mares que descansaram nas praias.
Então olho as filas de trânsito, a marcha dos carros fumegantes e dos seus ocupantes de olhar fixos numa estrada que lhes parece cada vez mais estreita, mais ingreme, mais longa. Olho as vidas a passar, com pressa de chegar a algum lugar cada vez mais vazio. Sinto a tristeza que lhes invade a alma, que lhes corrói a esperança. Não, não estou escondida em lirismos, não me afoguei nos sonhos para fugir da realidade, ela existe, bate-nos à porta, obriga-nos a cumprir as normas que mudam a uma velocidade vertiginosa.
Só as manhãs não pagam portagem, só o sol é grátis, só o céu é livre, e a brisa continua a oferecer boas notícias do que aqui e ali vai acontecendo de bom na terra, esta terra que habitamos. Que inveja, diz-me um suspiro, desta terra que segue o seu rumo natural, deste rio que conhece o seu caminho, deste mar e dos seus cais, das  dunas que tem para se abrigar. Eu, não tenho nada, mas tudo o que tenho me basta. 

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