segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Post.it: A minha inocência

Algures entre a infância e a adolescência, perdi-te. Eras a minha alegria, a minha esperança, o que me fazia sonhar e acreditar que tudo era possível. Eras o meu eu mais franco, mais livre, mais espontâneo. Eras o meu eu mais inteiro, verdadeiro, sólido e ao mesmo tempo frágil e terno. 
Enchias-me os dias de luz, preenchias-me as horas de ventura. Eras as minhas asas, porque sim, acreditava que as tinha, e, voava por mundos maravilhosos. Bastava abrir os braços e de imediato recolhia abraços, bastava quase cair para mil braços me ampararem. Bastava dizer dói e todos perguntavam onde. 
Depois, sem saber como perdi-te. Sem perceber onde desencontrámos-nos. E os nossos caminhos nunca mais se cruzaram. 
Cresceu-me um silêncio, avassalou-me uma escuridão, dominou-me um medo, senti-me só, tão só, sem ti. 
Eras a minha alma, o meu ânimo, a força motora dos meus passos. Eras a minha meta sem horizontes, a minha coragem de negar entraves e derrubar fronteiras. Dizia tantas vezes, eu consigo, afinal descobri, que sem ti não consigo, que sem ti pouco ou nada sou. Que se eu era barco, tu eras a âncora. Se eu era mar, tu eras cais. Que podia voar porque tu me eras ninho. 
Todos riam de nós, do nosso enlace, da nossa firmeza, não lhes ligávamos, sabíamos que éramos felizes. Confiei que era para sempre e sem fazer caso dos teus avisos, dos teus cuidados, aventurei-me a crescer sem ti. Rejeitei-te, neguei-te. Vi-me crescida no espelho e pensei que isso bastava. 
Fui descobrir o que era ser apenas eu, sem ti. Cai e nenhuma mão se estendeu, abri os braços e voltei a fecha-los vazios. Doeu e ninguém curou a minha ferida. 
Pensei, estou sozinha, responderam-me que apenas me tinha tornado adulta. 
Não! Gritei, não quero ser assim, quero voltar para ti, mesmo que te chamem ingenuidade, inocência, que se riam de nós por ainda acreditarmos que o sol brilha quando lhe sorrimos. 
Volta inocência, para voltar a voar sem asas, para voltar a ter confiança.  
Preciso de ti para sentir em mim a nossa felicidade.


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