sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Post.it: Diálogos interiores

Não sei se és um quarto, uma casa, algo, alguém… só sei que aqui estamos, arrumados, às vezes desarrumadores, outras desarrumados. Dialogamos entre nós, às vezes tentamos falar contigo, discutimos, atiramos culpas.
– Estou doente, reclama o intestino, a culpa é tua! diz ele apontado para a vesícula, que muito atarefada tenta gerir os ácidos, como um rio que transborda as margens.    
– Minha? Ora, se ao menos o estômago fizesse melhor o seu trabalho de dosear os alimentos!
 Lá vens tu, atirar-me culpas, quando eu apenas recebo coisas que me chegam pela traqueia.
Que de imediato se empertiga.
– Pois sim, só me faltava dizerem que sou culpada, eu lá controlo o que a boca come? “Não sou tida nem achada”. Continua a traqueia, “ engulo, por vezes em seco e passo a “batata quente ao vizinho, desculpa lá qualquer coisinha mas não tenho opção”.
 O quê? Responde a boca escandalizada, “será que me põem a culpa se algum de vós adoece, inflamado, mal humorados e afins?”
De repente ouve-se um enorme estrondo, todos em coro se manifestam assustados. “Que foi isto?”, “terá sido um vulcão das baixas entranhas digestivas?”
 – Não, responde a boca. “Então, terá sido um arroto das vias aéreas superiores sempre tão povoadas de “aviões” gasosos”, questionaram.
– Não, volta a rosnar a boca, foi um bocejo, acho que a criatura humana vai dormir, não façam barulho, porque se ela não dorme bem ataca-nos logo cedo com  uma dose maciça de cafeína e é o caos físico.
Quando há dor, todos os órgãos se olham por dentro, se entre-olham por fora.
Mexemos contigo, abanamos-te, chamamos-te, gritamos-te, por uma dor que nos magoa, que é tua, mas também nossa.
Não importa a culpa, queremos a solução. Trabalhamos em conjunto. Caminhamos nos mesmos passos, na mesma direcção para a vida.
Queremos ir mais longe, contigo. 
Cuida de nós, cuidaremos de ti, assim teremos um futuro longo e feliz…

Sem comentários:

Enviar um comentário