segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Post.it: Através dos meus pequenos olhos

Lembro-me de mim, num tempo em que tudo era novo, tudo era descoberta. Lembro-me de ter sempre os olhos ávidos por ver, por ir mais longe, por conhecer.
Lembro-me que os meses pareciam dias e os dias horas. Que o sol despertava e adormecia antes de conseguir viver tudo o que queria viver nesse dia. Os mais velhos lançavam-me olhares de cansaço como quem vem de uma longa viagem. E eu com palmo e meio de vida, um pouco mais de curiosidade, subia-lhes para o colo, aninhava-me nos seus braços e deixava-me embalar por histórias que não ouvia mas que adivinhava. Enquanto pensava, “um dia, hei-de ser como os crescidos, abrir a porta e caminhar pelo mundo.  Hei-de sair com a madrugada na mochila e regressar com tanto que contar que nenhum sono há-de chegar nessa noite só para ouvir as minhas histórias repletas de vitórias”. Porque quando se é criança, não há derrotas apenas vitórias adiadas, desafios para nos impulsionar a tentar de novo. 
E esse dia chegou, deixaram-me sentada num banco da escola. Nunca o tempo me pareceu tão lento nos seus passos de marcha até à hora seguinte. Os dias começaram  a parecer-me meses e os meses sentia-os como se fossem anos. 
Nesse primeiro dia, quando cheguei a casa, corri para o meu quarto, saltei para a minha cama, abracei a minha almofada e senti-me imensamente feliz. Foi então que percebi que nenhuma viagem tem a história mais bela do que aquela em que regressamos ao conforto de um lar, àquele espaço onde nos sentimos seguros para fechar os olhos e sonhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário