terça-feira, 20 de novembro de 2018

Post.it: Os nossos silêncios

Sou daquelas pessoas que tem sempre algo para dizer, algo para contar, não banalidades ou comentar sobre a vida dos outros. Mas sou faladora, gosto de falar, de contar os filmes que vi, artigos interessantes que li, coisas sobre novas descobertas tecnológicas e científicas. Só não me meto em discussões sobre política e religião, respeito a opinião de cada um, mesmo que tenham uma opinião diferente da minha.
Nessas alturas, prefiro calar-me por fora, porque por dentro, contínuo em longos debates a tentar perceber as diferenças.
Na realidade, tenho dificuldade em fazer silêncio, aquele silêncio em que não há nada sobre o que falar, sobre o que pensar, um vazio em que pairamos acima das coisas ou mergulhamos em nós e percebemos a insignificância das nossas lutas de opinião. Tento silenciar a mente, não desisto à primeira, insisto uma, dez vezes, há que parar, relaxar, descansar o corpo e a mente, apenas respirar e seguir nesse embalo.
Esquecer a pressa dos deveres, obrigações que nos impõem, que nos impomos ao ritmo inflexível do ponteiro do relógio.
Mais uma vez, regresso a mim, torno possível o impossível, calo-me. É então, nesse silêncio que encontro todas as palavras a esvoaçarem-me a cabeça como nuvens carregadas de acontecimentos ameaçando um deflagrar a qualquer momento. Inspiro e deixo o ar sair-me lentamente dos pulmões, como se fosse um cansaço milenar.
As palavras deixam de ter importância, na verdade era a importância que eu lhes dava, porque nunca a tiveram e, partem sem serem ditas, sem ganharem som.
Agora sim, há silêncio, mesmo que lá fora se ouçam as buzinas dos carros, as pessoas nos seus passos apressados, os toques de telemóvel quando tocam todos em simultâneo compondo um estranha sinfonia de falsos acordes.
Em mim há um silêncio temporal, como se o relógio tivesse feito um impasse de espera, talvez cansado das suas eternas badaladas. Há um silêncio existencial, como se a vida, também ela, parasse, sem ser uma morte nem um renascer, apenas um intervalo, sem sono, sem sonho, apenas o leve e sereno, existir.
Pouco a pouco a consciência devolve-nos à realidade e percebemos dela apenas a sua importância relativa, aquela que lhe damos. A pressa e o peso que lhe atribuímos. Claro que há prazos, assuntos por resolver, coisas para fazer, compromissos inadiáveis, etc., etc., tanto por fazer, tanto por dizer… Sim, é verdade, há tudo isso, mas também há o silêncio, a calma, o parar, a forma de o olhar. Está tudo em nós na forma como gerimos as nossas emoções, um lugar onde em segurança, nos encontramos, nos resolvemos, nos equilibramos e a forma como criamos os nossos momentos felizes de silêncio.


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