segunda-feira, 11 de março de 2013

Post.it: O pescador de ilusões


Fez-se ao mar nesse dia como o fazia todos os dias, todos os anos da sua vida. Fez-se ao mar com o mesmo pensamento de todos os dias, o mesmo sonho de todas as horas. Fez-se ao mar porque era pescador, mesmo quando regressava sem pescado. Era alvo de olhares fulminantes, de risos gritantes, corpo de embate de palavras pouco abonatórias. Mas ele parecia alheio às críticas agrestes, às atitudes rudes e todos os dias fazia-se ao mar. “Mas que pescas tu se nada trazes?”, o pescador sorria de uma felicidade que ninguém compreendia mas invejava. Sem responder seguia com passos leves sobre o areal. E no dia seguinte lá estava de novo, pronto para partir mar adentro. Alguns pescadores mais curiosos seguiram-no num desses dias, esconderam-se numa enseada e esperaram, sem saber o quê, mas esperam, pelo que esperava o pescador. Ouviram-no rir, falar, apontar para o vazio da onda que passava, depois para a nuvem que deslizava e, de seguida, estender os braços como se abraçasse o mar. Aproximaram-se devagar, uns diziam que devia estar louco, que o melhor era regressarem para o cais, mas os outros insistiram em ir até lá e escutar o que dizia o pescador. “Com quem falas, alguma sereia? Tentaram brincar. “Falo com as ondas, falo com as nuvens, com o meu amigo mar”. “E eles respondem?" Continuaram no mesmo tom jocoso. “Respondem”, afirmou com ar convicto. “Que tonto és, claro que não falam. Porque perdes tempo por aqui a falar com a água em vez de falares com os homens?" “Porque os homens, julgam, criticam, condenam, sem tentar compreender, o mar escuta pacientemente, embala, ampara e, solidário, murmura em eco o nosso lamento. Os homens nada têm para me dizer enquanto que o mar tem tantas histórias para contar”.