sexta-feira, 15 de março de 2013

Post.it: Gostava de ser velha


Gostava de ser velha, hoje, agora, de ter a sabedoria do tempo, aquela que o vento não  leva na sua erosão de lembranças, de esperanças.
Gostava de já não ter sonhos, porque todos eles foram alcançados, vividos, repartidos.
E mesmo que ser velha significasse estar perto do fim, mesmo assim gostava de ser velha, só para conhecer a história da minha vida, para a reler nas horas calmas e já não ter nada para lhe acrescentar, talvez um suspiro, um sorriso, uma lágrima de felicidade. Talvez uma caricia nessas folhas da memória que sentiria nesse dia com a paz que os anos trazem, na sua generosa oferta.
Gostava de ser velha, hoje, agora, para já não ter dúvidas, apenas a certeza do que sou, nascida desse caminho acre e doce que percorri. E hoje sem saudades, sem mágoas ficar a saborear os dias, sem pensar nos meses, sem almejar os anos.
Gostava de ser velha, hoje, agora e saber que cada espera valeu a pena, que cada dor foi apenas o parto difícil da vitória, que cada tristeza foi simplesmente o prelúdio de uma alegria maior.
Gostava de ser velha, hoje, agora, contigo, que um dia chegaste, não sei se foi cedo, não sei se foi tarde, mas chegaste e ficaste comigo, até eu ser, felizmente, velha…