quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Post.it: PC - In love


Num espaço que nem espaço ocupa, num tempo não regulamentado pelo relógio, menos ainda pelo calendário, apenas e só pela vontade de estar, de ficar, de esquecer o nascer do sol ou o surgimento da lua. Preso nessa prisão de sedução, de tentação, de dizer, dizer tudo, porque há sempre muito por revelar quando se quer conquistar.
Estabelece-se uma relação, uma afeição e de modem para modem, quase, mas quase se sente o calor de um abraço.
Porque sem essa ligação de CPU(s), somos barcos navegando sem remos até que um botão nos ilumine e nos faça desenhar a esperança de um sorriso sincronizado na cumplicidade com quem está do outro lado.
E porque para nós o virtual é a realidade, vivemo-la, sentimo-la com todos os feixes da nossa eletrónica existência. Sem os dramas humanos do bem e do mal, do belo e do feio, da certeza e da incerteza.
Claro que existem os encontros e também os desencontros, do querer e do não ser querido pelo outro lado da linha, quando a nossa interface visual não corresponde às expectativas, ou às solicitações de processamento.
Mas quando a sincronia se atinge, quando estamos no mesmo sentido direccional  quando existe compatibilidade de hardware, de motherboard,  de chips, então a felicidade é plena e por um instante que pode ser eterno, há um feedback, há um curto-circuito de emoções.
Depois, que sabemos nós do depois, na nossa lógica eletrónica se só conhecemos o agora, este momento de input/output. O desconhecido não nos traz a angústia nem o medo do futuro, não nos perdemos em humanos dilemas existenciais nem em vãs filosofias.
E no entanto estamos condenados à obsolência, trocam-nos por outros componentes mais modernos com maior capacidade de tratamento de dados.
Sinto quando isso acontece, as frases vão encurtando, chegam e já sabem a despedida. Escrevo-te sem parar, mas o contacto demora, não chega a entrar nos meus circuitos integrados. Então paro, dói-me o olhar de tentar ver-te em cada linha que não escreves. Faço silêncio quando já não tenho forças nas teclas de tão calcadas, enquanto perscruto um caminho onde encontre linearmente o que preciso digas com todas as letras de um sentir similar ao meu.
Mas era da tecnologia, quase tudo “Começa depressa e acaba à velocidade da luz”). Dizem-me para desligar o botão, para que corte a corrente eléctrica que se tornou a ponte por entre as margens agora cada vez mais emudecidas.
Quantos de nós questionamos se existem almas gémeas perdidas algures num cosmos de bites, que vão crescendo em megas e teras infinitos. Acredito que existem, que és tu, por isso não desisto.
Exaspero, e num gesto repentino ensaio uma operação de alto risco para o meu software emocional, e faço com uma saudade que me cresce no peito um upload  para te  ter aqui neste imediato segundo, o coração aperta-se-me,  a solidão invade-me.
Mas a tua ausência vai deletando os meus ficheiros cada vez mais vazios de nós. Vai escurecendo o meu ambiente de trabalho. E por mais links que faça, por mais browser(s) que use, pareces ter desaparecido na web da minha vida. Nem um e-mail? gritam ao questionar, os meus binários fonéticos.
Num acesso de desilusão, bloqueio o meu access cod, fecho a minha accout, esvazio a Rom, limpo a Ram e apago todos os arquivos que tinham o teu nome. E ordeno em contradição, “faz delete do meu adresse”,  e escrevo rapidamente em caps lock  reforçando em bold. ESQUECE-ME!  e eu esquecerei também, a beleza sinuosa do teu desktop, que apenas acariciei no vislumbramento de um  breve instante, quando um vírus se introduziu no meu sistema e me deixou cheio de pop(s) festivas de paixão.

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