quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Post.it: A dolorosa semântica


Por vezes já não basta o que se diz, o que se escreve, são palavras levadas pelo vento ou coartadas pelas silabas de letras mal conjugadas.
Então a semântica emudece presa na sua rede de sintaxes ansiosas por encontrar um pilar fonético que lhes dê sentido.
Mas nem que o eco repita mil vezes a expressão, ela cai no vazio de emoções ausentes. E num gesto quase desesperado, num quase suicídio literário, as letras uma a uma mergulham nesse mar a que chamam tempo. Porque o tempo cura tudo. Porque o tempo leva ao esquecimento. Quando no fundo, elas apenas desejavam um encontro de grafias, um acordo ortográfico que as fizesse escrever, ler e entender todas as palavras, as escritas e as por escrever num mesmo sentido.
Mas é mais fácil fechar o livro, é mais fácil rasgar a carta, é mais fácil desligar o botão e esquecer a dolorosa semântica do coração.
Escondemo-nos em figuras de estilo para enganarmos a razão que nos alerta para o abismo das emoções que como doidas alienadas continuam a escrever retóricas repletas de malabarismos discursivos que tentam apenas ser, bucólicas.
De repente invade-nos um silêncio magoado, olhamos as letras solitárias de outras que já nos tardam na folha branca, onde podiam estar desenhadas as linhas direitas de uma Primavera afastasse de vez Inverno que nos invade a escrita.
Talvez tudo isto seja uma imaginária hipérbole, ou, quem sabe, o ténue caminho de um animismo de esperança.