terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Post.it: Memórias do olhar


Olho, mas sinto que é insuficiente o meu olhar. Que a multiplicidade de imagens, de sensações, de sentimentos não cabem na eternidade, quanto mais,  na finitude do meu ser. Tudo o que olhei, tudo o que olho, o que desejo olhar, nada é, do  que me rodeia, do conhecido e desconhecido,  que nunca poderei abarcar.
Faço escolhas, não sei se as melhores opções. Não busco o fácil, mas o verdadeiro. E o olhar torna-se contador de histórias, um ilustrador que pinta com  traços simples a cegueira do coração.
Esse músculo que bate compassado, prisioneiro do corpo, sonha com aventuras que poderia ver se possuísse a visão dos olhos. Mas é apenas um músculo que sustem a vida, em troca, recebe a força desse olhar que o faz vibrar e sonhar e sentir.
 – Sim, porque o coração sente, sente a mágoa que a visão do olhar lhe transmite. Sente a desilusão que o olhar por vezes lhe quer esconder. Sente o vazio, a impotência de quem olha sem nada poder alterar.
Os mais teóricos, cépticos, dirão que tudo isso se passa apenas no cérebro, nesse conjunto de neurónios que constroem e desconstroem as imagens, interpretam e fazem o corpo sentir essa interpretação.
O coração suspira triste com a descrente ignorância   que converte as emoções mais belas e delicadas em inóspita razão pura. Quando nem sempre o coração obedece à razão, quando o que o comanda lhe  bate ao ritmo da emoção.
Então, constrói memórias, guarda-as dentro de si. Como se fossem preciosos tesouros. De vez em quando deixa sair uma, através dum longo suspiro. É com tristeza que as vê partir, são filhos que seguem um novo destino. Além disso é necessário arranjar espaço para novas memórias, novos olhares.