segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Post.it: O Homem centenário


“A vida é uma derrota”, diz o Homem centenário, que só por isso merece o meu respeito e admiração.
Só por isso, porque eu, que ainda não cheguei ao topo da montanha existencial que define a esperança média de vida, digo com plena convicção, que a vida é uma conquista.
Claro que não esqueço o aviso de Camões na voz do Velho do Restelo, “cuidado com as vitórias porque podem redundar em derrotas”.
É possível que sim, diz-me o bom-senso, mas “vale sempre a pena, se a alma não for pequena”, recito mentalmente, porque, afinal, temos sempre que dar esse passo rumo ao futuro, mesmo que não consigamos alcançar  todas as nossas metas. Vale a pena, pelos sonhos que cada momento nos fez sonhar, pela alegria que nos fez sentir, pelas asas de esperança que nos permitiu voar.
“Tudo o que a gente faz é um pronúncio de derrota”, insiste o Homem centenário, aquele que já viveu muito, que já alcançou muito, que já travou as suas batalhas, que já perdeu muito.
Perto dele, sinto-me uma adolescente contrariando teimosamente os seus conselhos, esquecendo quase de imediato os seus avisos, talvez, sábios, e prosseguindo na senda do perigo, na rota dos meus ideais.
Então o Homem centenário, percebe que não pode evitar as minhas quedas, que não pode impedir os meus fracassos, nem tão pouco antever as minhas vitórias, estende-me um sorriso de incentivo, oferece-me um olhar de dúvida, quem sabe a minha escolha não me leva para caminhos que ele, Homem centenário, nunca conheceu. Por fim acena-me um leve adeus de partida, sem acreditar no regresso. Fica a ver-me desaparecer no horizonte, sem uma palavra, porque a única que lhe quer sair do peito é de inveja, inveja pela minha teimosia, que também ele já teve.
Inveja por não ser mais novo para também ele desafiar o tempo, derrotar a dúvida e obter a certeza de que a vida será sempre “uma vitória”.

Sem comentários:

Enviar um comentário