quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Post.it: As minhas raízes


Fui amiga de uma Oliveira, e ela foi minha companheira e confidente de fortúnios e infortúnios. Nesse tempo não tinha o mar onde afogar as minhas mágoas, apenas uma planície por onde se derramava o olhar e de vez em quando uma lágrima adolescente que ainda mal começava a desvendar os caminhos do coração.
Nos longos dias em que os desenhava nas nuvens para depois os seguir num sopro de vento. Poucas coisas entristeciam o espírito rebelde que se deleitava nas searas depois de ceifado o trigo. Poucas histórias toldavam a alma juvenil que se balouçava naquela velha oliveira que já não dava azeitonas, com uma sombra cada vez mais diminuta, com raízes a sair da terra, como se quisesse dizer “está na hora de partir” mas ficava. Ficava porque havia sempre quem buscasse nela algum consolo. Ficava porque não conseguia fechar os braços àqueles abraços que pareciam não ter outro alguém a quem abraçar, outro alguém a quem contar a causa do seu desgosto ou desabafar a sua secreta alegria, e que no seu tronco de uma resistência ancestral desenhavam corações com duas iniciais, talvez com fé de que ela lhes desse um pouco da sua perpetuidade, da sua solidez. Quantas dessas vidas cumpriram a esperançosa promessa, quantas permaneceram apenas nessa marca que o tempo não apagou nem as intempéries causaram alguma erosão.
Também eu lhe pedi para não partir, quando ela tentava novamente soltar-se da terra. E ela ficou até ao dia em que fui eu parti.
Não sei se ainda lá estará, na sua ilha de horizonte. Imagino-a protectora de outros corações no infinito ciclo de gerações.
Apenas sei que permanece em mim, com raízes de lembrança que nunca poderão partir.

Sem comentários:

Enviar um comentário