sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Post.it: Minha boa e velha amiga


Já te posso chamar assim, depois de tantas viagens, de tantas paragens. De tantas entradas, de tantas saídas em apeadeiros que não passaram disso mesmo. Depois de tantas Primaveras, umas floridas, outras, nem tanto. Depois daqueles Verões com ou sem mar mas sempre, sempre com calor, o da temperatura e o dos amigos, mais ou menos, ternos. E dos Outonos  esses que me são ainda próximos, com a queda da folha mas não do desalento. Quando já o Inverno espreita de mansinho, olho-o com um sorriso, convido-o a entrar, tenho estado à sua espera, preparei o corpo, aqueci a alma, aconcheguei o coração, nenhum frio o vai arrefecer. Nenhum vento me vai demover desta nossa velha amizade. Nenhuma chuva me vai invadir o olhar, porque ainda tenho muito mais para ver, e para partilhar contigo.
Saudades? Não tenho. Será um indício de senilidade? Talvez, mas esta é a minha verdade: viver cada momento como se fosse o único. Porque aprendi ao longo do tempo que pode realmente sê-lo.
Não tenho saudades, nem mesmo de quem “partiu”. Porque ter saudades é reconhecer a perda, e eu que tive a vossa amizade e carinho, nunca perdi, apenas ganhei, e cresci em gratidão convosco.
Saudades do que passou? Não! Porque isso é um desmerecimento para com presente que se nos oferece generosamente em cada dia.
Não, minha velha amiga, não tenho saudades, nem de ti quando eras nova, porque hoje, embora estejamos diferentes reconheço-nos iguais, com algumas fragilidades, alguns achaques, mas também com mais tempo para apreciar os pormenores que antes me passavam despercebidos.
 Por isso, minha boa e velha amiga, como costumo chamar-te, minha vida, vamos continuar a viver plenamente cada instante, lado a lado pelo tempo fora, para não nos tornarmos um dia, apenas um amontoado de saudosas recordações.


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