terça-feira, 19 de junho de 2012

Post.it: Um suspiro do coração


“O amor tem destas coisas”, dizia uma amiga minha ao comentar o casamento da duquesa do nosso país vizinho, já octogenária, cujo nome me escuso de mencionar. Num primeiro impulso adorei a sua ingenuidade, depois passei a detestar a minha descrença numa humanidade que já não se gere essencialmente por sentimentos leais e verdadeiros. Os anos que passaram por mim, deixaram lições que aprendi com maior ou menor dificuldade. Ao longo desse tempo fui perdendo esperanças, lembranças, talvez até ideais. Mas quero acreditar que não deixei pelo caminho o essencial e que sou um ser humano com qb de são e de louco, que sou uma cidadã cumpridora e uma amiga verdadeira.
Enquanto divagava na análise dos meus valores, e num balanço de consciência, a minha amiga de feitio germânico, como gosta de referir do topo dos seus “oitenta e alguns, nem muitos nem poucos”, palavras dela. Volta a insistir com a sua natural graça, “Mas há quem acredite num amor encontrado aos 80 e tal anos? Tenham lá paciência, que o vosso romantismo já extravasa os limites da lógica! Digam-me em boa verdade, quem é que se iria apaixonar pelas minhas rugas, quem é que se quereria casar com o meu reumático ou partilhar a vida com a minha já notória senilidade? Que não é tanta assim,  porque ainda tenho consciência da realidade. Só se eu tivesse muito dinheiro ou uma posição social invejável!?” Rimo-nos em conjunto da imagem que se desenhou na nossa imaginação. Do seu humor jovial, da sua franqueza e sobretudo rimo-nos com ela, pela sua destreza de ideias, que está longe da senilidade que refere com grande candura. E cresce-nos a certeza que se já perdeu a ingenuidade dos verdes anos, mas a vida recompensou-a com a alegre sabedoria do amadurecimento.
No ar fica a dançar a questão: Até que idade se pode amar?
Não sei responder à questão, no entanto, desejo sobretudo que se ame enquanto existir nos pulmões um folego de vida capaz de pronunciar aquela doce palavra que nos suspira do coração.

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