quarta-feira, 27 de junho de 2012

Post.it: Da minha janela


Debruço-me e vejo na rua, a passar, rostos que me contam histórias num silêncio que ganha voz através da minha. 
Incapaz de calar por mais tempo as horas que lhe enchem os dias, e os dias de que lhes preenchem os anos. Que lhes transparece no rosto, que lhe marcam a sombra do olhar mesmo quando desenham a medo o esboço de um sorriso.
Abro a janela pela manhã, entra-me o sol e o reflexo do céu no mar. Esse oceano que uns dias acorda em tempestades de azul, gritando numa sinfonia de ondas, palavras que tento entender, antes que morram no areal da extensa praia. 
Enquanto que me oferece outros dias, cheios de calma. Nesses dias, deita-se no meu olhar e convida-me a navegar na extensão das suas ondas, numa viagem rumo ao infinito. Uma viagem que apela ao esquecimento, à alienação do mundo. 
Um convite a que me afunde no seu abraço, que me funda com as suas águas mansas e renasça, límpida e serena. 
Quase cedo ao convite, quase lhe entrego o desalento do meu sonhar. Mas depois recordo-me dos vendavais com que recorta a costa e permaneço na minha ilha ancorada. 
Entretanto, fico na janela da vida, a ver o mundo passar, desejando cada chegada, sonhando com cada viagem que nos traz cada vida que em algum instante se cruza com a nossa. 
Que nos faz sair da janela e caminhar pela mesma estrada.

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