sexta-feira, 8 de junho de 2012

Post.it: Já não te dedico versos


Fecho o livro que estava a ler, cheguei à última página, por momentos, invade-me uma sensação de orfandade, de quase saudade pelas páginas que chegaram ao fim, e não se pode dizer que tenha sido um final feliz. 
Porque é um livro de poesia, onde o poeta se derrama em versos que seguem no rio da escrita, perdendo-se por mares de solidão. E intuo um sentimento de fracasso, na sua missão de conquista. Onde ímpeto do escritor não encontrou resposta para as suas questões mais íntimas. Porque as tem, acreditem, deixa-as, não nas linhas que escreve, mas nas entrelinhas dos seus versos entrelaçados por entre as rimas.
“Já não te dedico versos de amor, para quê, se tu não os lês? (“Claro que leio”) já te adivinho a pronunciar num esvoaçante pensamento. 
Claro que lês, reconheço, mas não com o coração. Não com o sentimento de reciprocidade que o meu espera do teu. 
Já fui longe, tão longe, para te trazer: todos raios de sol, todas as gotas de chuva, todas as ondas de mar, todos os oásis do deserto, todas as sombras do luar. Já construi pontes de esperança. Até te trouxe relâmpagos para te iluminarem o caminho de volta aos meus braços. E no entanto continuas aí, algures neste universo de vidas, nesta dimensão de espaço e de tempo, que é, neste momento, a única coisa que temos em comum. Tudo o resto diferencia-nos, afasta-nos, faz-nos seguir caminhos eternamente distintos.
Já não te dedico versos de amor, para quê se viras a página e me arrumas automaticamente na estante, empilhado junto com muitos outros livros que já te contaram histórias. Mas as suas histórias não contêm o mesmo fervor, o mesmo desejo de tornar realidade a fantasia que descrevo em plumas de vento, só para te levar comigo, para permanecer contigo, por dias, meses de um folhear tranquilo. 
Nesses dias em que me deixas dormir a teu lado, pousado na tua mesa-de-cabeceira enquanto me torno, alegremente, guardião dos teus sonhos…
Mas não, já não te escrevo versos de amor, porque sei agora que vou ficar para ti,  como uma  página em branco, onde nunca irás escrever a conjugação de um verbo feliz…”

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