quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Post.it: Verdadeiros tesouros


Povoamos o mundo com  inutilidades, daquelas que não dispensamos, que temos que comprar num impulso imediato, num gesto triunfal e que depois colocamos num qualquer canto da casa,  definitivamente esquecidas.
Confesso que sou membro desse “clube”, “ou não fosse ela mulher”, dirão os homens com  ironia acutilante. Mas a verdade é que embora me assuma consumista de frivolidades, o sou cada vez menos, não só pela crise, mas porque,  não tenho  necessidade nem nunca tive,  de adquirir ‘coisas’ só por adquirir. Mas conheço pessoas assim que acumulam “tralha”, porque a dada altura no longo percurso de uma vida, os objetos vão ficando descontextualizados no espaço e no tempo. Para que guardas tantas coisas? Pergunto-lhe já cansada de esbarrar com  as imensas bugigangas. “Sei lá, acho giro, são coisas com histórias, são objetos que compro porque me enchem o olhar, são coisas que me dão com tanto carinho, como me vou desligar delas?”
É esta a histórias das inutilidades, o percurso que já fizeram até às nossas mãos. Inúteis para quem as olha e nada sabe o que as levou a chegar aqui e a permanecer.
“É bem verdade que quando um dia encetarmos a longa viagem nada disto poderemos levar, mas enquanto o navio não parte, ficamos no cais, a acariciar com o olhar cada objeto que já nos tocou o coração.” Rendo-me a esta confissão, olho cada objeto com um novo olhar e “rezo” para não tropeçar em nenhum deles e destruir a sua memória..
Porque afinal não são um mero acumular de “tralha” mas um acumular de carinho, uma coleção de atenções que nos ofereceram e que nós retribuímos talvez com outras tantas “bugigangas” que pretendem ser uma partilha de gratidão e de emoções. Povoamos o mundo com aparentes inutilidades ou melhor, com verdadeiros tesouros.

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