terça-feira, 21 de agosto de 2012

Post.it: O colecionador de desertos


Nunca estive no deserto, nem sequer naqueles dias desertos de acontecimentos porque surge, sempre algum oásis que me afasta dessa sensação e vem dar-me alguma frescura e sombra ao passar das horas.
Mas a impressão que tenho quando penso num deserto é de vazio. Esse vazio que encontro em alguns olhares, aqueles que me olham sem me ver, que se fixam nos meus olhos sem os refletirem, há neles uma imensa escuridão que nenhum sol consegue iluminar.
Bem sei que de vez em quando todos atravessamos desertos interiores. Travessias que nos são dolorosas, que tornam penosos os passos, cansados de um caminho sempre igual e sem o vislumbramento da meta. Cresce-nos dentro do peito  uma sede que nem a mais cristalina água consegue saciar, porque é sede de sensações, de serenidade, de harmonia, de amor…
Mas aquele rosto distingue-se dos outros, pelo deserto da expressão, pela secura da voz, pelos passos perdidos, pelas mãos vazias, pela aridez do coração, prende a minha atenção, e no silêncio que me oferece ouço claramente a voz da sua alma cansada de desertos que me revela histórias de uma longa jornada,  “já atravessei desertos, muitos desertos, desertos de amor, da falta de alguém, da falta de saúde, de dinheiro, de alento, de abraços, a cada passo ambiciono que seja o último, mas há sempre outro a seguir, como houvesse uma força que me empurra a seguir em frente em busca do final deste meu deserto”.
Nenhum deserto nos derrota, quando vivemos na antecipação de um milagre, essa chuva ocasional que nos lava o pó da caminhada e nos inunda de esperança. Uma esperança que não nos chega a formar um oásis no peito mas que o deixa enunciado num sopro do olhar, afinal, sabemos que  nem os desertos são infinitos e, não devemos permitir que a vida nos escoe por entre os dedos.

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