terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Post.it: Mulher moderna...


“Sou uma mulher moderna” diziam os seus lábios com um sorriso, mas de olhar triste. “Sou uma mulher moderna”.  insiste em dizer-me.
“É verdade que o sou enquanto acendo o computador na sala enrolada num cobertor, onde enrolo a solidão, enrolo o silêncio. Sou uma mulher moderna” Repete como se quisesse convencer dessa verdade sem que isso a magoe. 
“Porque o sou, quando clico no teu nome e te deixo invadir a minha vida, com frases, com imagens. Fazes-me rir, mas também chorar”. 
Fazes um silêncio, aposto que estás a tentar pensar que és uma mulher moderna mesmo quando vives as emoções apenas através de um monitor.
Já não pede mais do que isso, habitou-se. Como ela diz, num to de voz que não me convence. “Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Afinal pode ver o rosto dele através de web câmera. Meio desfocada, é verdade, mas  imagino por momentos que está em Marte e que por isso, só por isso não o posso receber na minha sala, embrulha-lo no meu cobertor…” 
“Escuto a sua voz, apesar de me soar diferente, de serem audíveis algumas notas desafinadas pela tecnologia. Reconheço a sua voz, cada vez com maior dificuldade, apenas com o esforço rebuscado da longínqua memória.”
Olha-me com o olhar vazio, vazio de esperança, encolhe os ombros e aceita essa realidade que passou a ser a sua. “A única possível” diz, sem acreditar muito nisso.
“Além disso, sou uma mulher moderna, posso muito bem  habituar-me à ideia de que a distância não existe, que o afecto navega através de cabos, que desliza na fibra óptica, que voa até aos satélites vizinhos das estrelas e que depois de toda essa viagem, entra-me  de mansinho no coração.
 Já não bate à porta como antigamente, já não faz serenatas na janela, entra simplesmente quando carrego num botão. Mas continua a ser amor, o amor de uma mulher moderna.”
Com um coração “à moda antiga”, quero dizer-lhe, mas não digo. Ela também o sabe. Sabe que para além do “ver” tem saudades do “sentir”. Precisa sobretudo de ter uma  vida real que lhe preencha o vazio que fica dessa realidade virtual. 

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