quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Post.it: Cabelos brancos


Ainda me lembro de te ver no rosto liso, um olhar terno, um sorriso luminoso emoldurado por uns cabelos negros que dançavam permanentemente ao vento, mesmo quando não havia vento. Surpreendia-me sempre esse esvoaçar. 
Então imaginava que não caminhavas, que flutuavas com  rapidez, essa rapidez que te impunhas para generosamente responder aos meus apelos infantis.
O tempo passou e eu nem percebi, por isso não me lembro quando os teus cabelos começaram a ficar raiados de branco, de imediato imaginei que eram pipocas a saltar em cada fio. E de repente, como que num passo de magia, todos os teus cabelos ficaram brancos como se um manto de neve os cobrisse. 
Estremeci, assustei-me com aquela imagem, mas o teu rosto que já não é liso revelou-me o mesmo sorriso, o mesmo olhar terno e ofereceu-me aquele abraço quente que reconheceria único no meio de muitos outros. 
Com o peito inquieto perguntei, pintaste os cabelos? Com voz cantante na memória dos meus embalos, respondeste, “Não os “pintei”, pintou-mos a dor”.
Então chorei baixinho e de imediato, amei-os.

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