terça-feira, 20 de setembro de 2011

Post.it: Desportos de praia

A natação já um clássico que sempre apreciei, mas o futebol foi a minha primeira paixão, praticado na água, entre ondas e amigos. Quando foi proibido, voltei-me para o voleibol, mas revelei fraca aptidão. Mais ambiciosa quis conquistar o céu e lancei-lhe coloridos papagaios de papel. A paixão foi correspondida e durante alguns anos não pousei. Mas o espírito irrequieto que me caracteriza fez-me regressar e partilhar novas actividades, cedi à moda das raquetes de praia. Não sendo exímia executora, não fiz má figura. Porque aliás tudo aquilo a que dedico o meu tempo e devoção tem que sair bem ou nem tento. Por isso nunca investi em desportos radicais que poderiam ter desfechos fatais. Mas este ano nas férias, foi diferente. Terá sido por causa da crise, essa a quem todos acusam de tudo o que lhes sucede, ou por nostalgia de tempos remotos, senti vontade de voltar às tradições, ao encontro ou reencontro do prazer nas coisas simples. Alguém se recorda ainda da brincadeira de lançar pequenas pedrinhas para que elas saltitassem na superfície da água?
Perante a tranquilidade desse mar que se perdia na linha do horizonte, invadiu-me o saudosismo, do tempo em que bastava uma pedrinha, a serenidade das águas e um jeito de mão para que ela desenhasse na superfície que espelhava o céu, pequenos círculos, tantos quantos o impulso de voo lhe permitisse. E a pedrinha, qual surfista, deslizava.
Aprendi o gesto, repeti-o, refinei-o, e a pedrinha obedecia feliz. Pinchava, uma, duas, fui até aos cinco ressaltos, atravessando a Ria Formosa. Este tornou-se o meu passatempo, numa longa caminhada à beira mar, ia recolhendo pedrinhas, não qualquer uma, já identificava as campeãs pela forma e alisamento. No final do areal, desenhava-se na paisagem uma lagoa cuja suavidade  convidava ao mergulho e a infindáveis braçadas, lentas, quase numa envolvência de dança e harmonia de existências. Depois seguia-se a diversão, a competição, a ambição de chegar mais longe. Por fim o descanso e um leve banho de sol, enquanto ele ainda sorria lá no alto do horizonte.
É bom reencontrar o prazer de ser feliz na simplicidade da vida.

7 comentários:

  1. Anónimo20.9.11

    Foi bom lembrar-me dessas vivências, jogos que fazia com os meus irmãos, já tentei fazer com os meus filhos mas eles preferem a bola e sobretudo as pranchas de surf. Outra época, outra geração, espero que não desista e desperte noutros esse gosto pelas coisas simples. José

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  2. Anónimo20.9.11

    Lembro-me de ver a prática de lançar pedrinhas nos filmes americanos, ficava sempre com alguma inveja por não o conseguir fazer, fui chegando à conclusão que eram coisas de filmes. Afinal é possível? Que inveja da sua habilidade, que não se fica apenas pela escrita! Um beijo, Adelaide

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  3. Anónimo20.9.11

    Estou a ver que tiveste umas férias muito giras, quero mais pormenores, mas sol, mais mar.

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  4. Anónimo20.9.11

    As coisas simples têm particular beleza, tenho aprendido isso contigo, porque as tuas mensagens, aparentemente simples, são densas, generosas e particularmente belas. BJ. Amália

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  5. Anónimo20.9.11

    Recordei através do seu texto as experiências da minha infância. Recordações que já não lembrava há tanto tempo. Não era tão habilidoso como você, as minhas pedrinhas limitavam-se a saltitar apenas duas vezes e já considerava um feito. Um abraço. Antero

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  6. Anónimo20.9.11

    Estou a gostar das tuas férias, sem grandes realizações mas com a valorização de que é simples mas belo. Conta mais? Bjs A.

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  7. Anónimo20.9.11

    Olá querida, você sabia que lançar pedras no lago já é um desporto? Tem mesmo campeonatos mundiais, o atual campeao faz a pedrinha ressaltar 40 vezes. É mesmo, 40! Vai praticando que você chega lá. Se não chegar não fique triste você já tem o campeonato ganho na escrita. Beijão Marina

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