terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Post.it: O sentir

Escrever é, por vezes, olhar para dentro, falar de nós para nós, dos outros para os outros. Ser um rio que cresce até ao mar e que revela, por vezes, os nossos vendavais. O que escrevemos são fantasias, dizem, supõem. Mas nunca o são totalmente. São sonhos, desejos, aspirações.
É simplesmente o nosso querer que surge, espreitando, em cada letra. A nossa vontade de chegar até vós, que perscruta em cada intervalo de palavras, que se confessa por entre o silêncio. 
Um silêncio que luta para ganhar voz, ser audível aos olhos dos outros, quando captam a mensagem e a enviam para o cérebro, numa intrincada lógica de feixes e neurónios, caminhos e estradas do conhecimento, da linguagem, dos sentimentos, das sensações e, de repente, tudo faz sentido. As letras tornam-se expressão, emoção, fazem rir, fazem chorar, tocam-nos só com o correr da linha, só com a harmonia das frases, com a dança consonante das palavras. 
Lembro-me de quando aprendi a ler, quando as letras unidas começaram a ser identificadas com palavras que, em conjunto com outras, contavam histórias, revelavam coisas que, antes, me pareciam apenas rabiscos ilegíveis. 
Foi uma descoberta, uma conquista, um mundo novo que abriu, que se mostrou perante os meus olhos cheios de curiosidade, famintos de conhecimento. Lembro-me que lia, lia tudo, tudo o que tivesse letras, coisas sem importância que, para quem começa a ler, é magia. 
Uma magia que não sei de onde vem, se das palavras, se dos olhos, se do coração ainda tão puro; ou ainda se vem da vontade, da bondade ou se do cérebro com todas as suas intrincadas ligações, se do simples facto de sermos humanos e não robôs. 
É verdade que tanto nós como eles conseguimos interpretar o código ordenado de símbolos a que chamamos escrita, mas só nós, seres de carne, osso, sangue e alma podemos sentir o que essa escrita nos revela. Por mais sofisticado e inteligente que seja o uso de fibras óticas, por mais pixéis, bytes, mega, terabytes e tudo o mais de que são feitos os robôs, eles podem comunicar, emitir raciocínios lógicos, encontrar soluções. Mas, enquanto não encontrarem uma fórmula lógica para o sentir, só nós, humanos, teremos o privilégio de ter e partilhar sentimentos e emoções.


Sem comentários:

Enviar um comentário