segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Post.it: Regresso

Regresso de férias, de uma outra rotina sem horas marcadas, de descanso, de cansaço da viagem, das limpezas, das arrumações. Regresso da paz ou da euforia, do sol, do mar, do caminhar, da roupa leve, do chinelo no pé, dos cabelos ao vento.
Mas antes, por um momento, antes do regresso, deixem-me encher o painel solar do coração com toda esta luminosidade antes que o inverno o invada de escuridão. Que os olhos se inundem de azul, de verde, de areais, de gente colorida, da espuma branca da última onda marítima. Que os lábios congelem ao prolongarem mais e mais o toque com o último Corneto de chocolate estaladiço, que o último jantar de férias seja uma bola de Berlim com um generoso sorriso de creme de pasteleiro. Hoje, mesmo que seja só hoje, vamos esquecer a dieta, o colesterol, a glicose, temos todo o inverno para nos penitenciarmos do pecado da gula.
Merecemos cada momento deste verão, destas férias, pela paciência e desgaste despendido ao longo do ano, com todos os sacrifícios que tivemos de fazer para conquistar o direito a uns dias no paraíso. Estes momentos nossos, só nossos para partilharmos com quem queremos, sem obrigações, sem ralações, sem discussões, sem colegas, sem patrões.
Mas eis que chega a altura de regressar, lembro-me que em tempos distantes, esta época era de alegria, de espectativa, significava reencontro, novidades, histórias partilhadas com os amigos da escola, mas também isso já passou e o regresso agora tem um sabor de reconforto, cada vez mais é um sabor de reconforto, cada vez mais é bom saber que se tem para onde regressar, e que é isso nos possibilita no próximo ano ter novas férias, pagar o conforto de um lar, ver os filhos crescer sem sentirem dificuldades e adormecer à noite no sofá da sala com o som embalador da televisão. Amanhã, regressamos, talvez não ao que mais desejaríamos, mas apreciando e valorizando o que temos e, se dermos o nosso melhor, quem sabe também ele seja melhor para nós, pelo menos na sensação de realização porque fizemos o que estava ao nosso alcance. 
A todos os que regressam, bem vindos.

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