segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Post.it: Vaga lembrança

 Quem fui,  quem sou. Os caminhos que percorri, as sensações que senti.
Morri no dia em que esqueci.
Do meu passado, do meu presente. Das recordações que construí. Das vitórias, dos fracassos. De tudo o que fiz, do que ainda queria fazer. E tinha tanto por fazer. Lembro-me que tinha planos, mas não me lembro quais. Recordo-me que tinha esperança, não sei sobre o quê.
Morri mas ainda encontro a marca dos meus passos, ainda vejo o meu rosto no reflexo do espelho, embora não tenha a certeza de que seja eu, dizem que sim. Por vezes rio-me desse olhar perdido em busca de me encontrar. Num jogo de escondidas, em que estou aqui e não me encontro. Por vezes choro, porque estás ai e não te reconheço, há em ti, qualquer coisa de mim, não só no gesto simultâneo, mas na dor coincidente. Então estendo-te os braços, estendes-me os braços mas não acontece entre nós o abraço. Uma barreira que não consigo identificar. Um muro de medos, uma fronteira de escuridão, aumenta cada vez mais a nossa distância.
Hoje sem saber bem porquê, chamei-te Lembrança, talvez porque me tenha lembrado vagamente do teu nome, curioso, é igual ao meu.
Mas há dias em que te chamo Esquecimento, por similar razão, não me recordo do teu nome, dizem que é igual ao meu, mas, qual é o meu?
No princípio, tinha muitas questões e as respostas magoavam-me porque na verdade já as conhecia, doíam-me porque sendo de situações passadas as sentia novas, num passado que me estava sempre presente. 
Depois, até das perguntas me fui esquecendo e ninguém me veio dar respostas. Cresceu uma paz, um silêncio, um distanciamento, uma morte, como se a vida morresse, quando ela se esqueceu  de terminar e continuou a viver.

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