sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Post.it: Lugares perigosos

O passado é um sítio muito perigoso para se visitar. Tem armadilhas, algumas prestes a explodir ao simples olhar, ao simples suspiro. De repente pode afogar-nos em lembranças, de repente pode fazer-nos vir à tona das nossas fantasias. Porque o passado, tem tanto de verdade como de imaginação, quando o tempo e a distância o tornam mais suave, quando as feridas se tornam lições que tivemos que aprender pelas réguadas da vida. E nós, esfregámos as mãos, para aliviar a dor. Secámos as lágrimas com lenços de esperança, ou desejo de retorquir, “quando eu for grande hei-de fazer-te o mesmo, vais ver se gostas!”. Mas felizmente passou, e ao passar mudou o pano de fundo da história, afinal não foi um deserto árido de ventura, até era um jardim repleto de primaveras. A verdade, o que realmente aconteceu, foi um inverno, gélido e magoado, mas que importa, já passaram tantos verões que todos os icebergues da vida se derreteram e tornaram-se praias douradas, com suaves ondas e fofas dunas.
O passado é um sítio inquietante, pelas aventuras, pelas ternuras. Pelo que foi, pelo que devia ter sido. De quando em quando, perdemo-nos no seu labirinto e vemo-lo através dos olhos da criança que fomos, tudo era tão grande, assustador, havia abismos em todos os lados, mas não os temíamos, eram desafios, só os fortes, só os bons venciam, e nós, éramos, frágeis, sim, mas bons, de alma e coração. Não sei porque  nos acusavam, de reguilas, rebeldes, desobedientes, irrequietos, do que na verdade éramos, crianças. Algo que os crescidos já tinham esquecido, talvez não tenham visitado o seu passado para recordar os bons e os maus momentos, talvez tenham apagado as cores do seu arco-íris e só se lembrem da copiosa chuva.
Mas o ciclo da vida contínua imparável, as crianças tornaram-se adultos, os adultos tornaram-se velhos e os velhos, uns mais do que outros, voltam a ser crianças, sem viverem aventuras mas recordando-as, quiçá, imaginando-as.
O passado, torna-se finalmente um lugar feliz, porque se descobre que apesar de tudo, éramos felizes. A felicidade é viver o ontem que seja para sorrir é olharmos para o amanhã com esperança,  mas sabermos que só no hoje é que podemos sentir-nos plenos de vida.


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