terça-feira, 1 de julho de 2014

Post.it: A geografia da alma


Cai a noite mas em algum lugar da terra já é alta madrugada. Adormeço, sonho, esqueço, mas algum lugar da vida, alguém desperta para a luta dos dias, caminha, faz a sua estrada. “Vai, depois irei eu” sussurro-lhe em pensamento, quando tu já embalares a noite serei eu quem desperta o novo dia, quem o enche de momentos, de risos, de abraços, quem caminha para que ele desperte em ti e em mim adormeça. 
A alma que não conhece horizontes nem pontos cardeais, aconchega-se em nós, confiante de qua a conduziremos no “de lés a lés” da existência. De vez em quando algo a abala, estremece, espreita no olhar, chora essa dor e recolhe ao seu lugar no infinito recôndito do nosso ser e ali fica, com vontade de voar, com receio de cair. Porque voar implica conhecer os pontos de orientação, mas ela nada sabe de caminhos, só conhece o do coração e segue por ele ou simplesmente deixa-se ser levada conduzida com suavidade. 
Aventuras já não são para a alma amadurecida pelo tempo que só o tempo lhe conhece a idade. Afinal, dizem presumindo, que alma nunca é nossa já foi de outra vida e a outra depois de nós pertencerá. 
Apenas a guardamos, protegemos e tentamos que seja feliz. Quem sabe até encontre a sua alma gémea, neste lado do mundo, neste lado da vida. Mas se estiver na outra fase da lua, nunca encontraremos um luar comum, e o meu dia será eternamente a tua noite e a tua noite o meu dia. 
O teu sorriso a minha lágrima, o teu frio, o meu calor, mas nesta alma comum de sentimentos, a geografia não fará transtorno ao amor. E a Norte ou a Sul, Este ou Oeste, haverá um qualquer ponto cardeal que nos conduzirá na confluência de mares, rios, céus, estrelas, sol e lua, dias e noites, vida passadas, presentes ou futuras. 
Nem que seja necessário construirmos pontes, derrubarmos muros, cruzarmos fronteiras terrestres, marítimas ou celestes, um dia, haverá certamente um dia em que finalmente a minha alma encontrará a tua no mesmo lado do universo e dessa história por fim unida e galáxia festejará e dessa celebração nascerá uma estrela, a mais bela, a mais brilhante, única, nossa. Que existe só para nos iluminar e assim não nos voltarmos a perder por entre os meandros do sentir.

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