quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Post.it: O filho do meio


Ser o filho do meio não é fácil, dizia-me o meu sobrinho, com o desalento próprio da sua idade (14 anos) pensei numa primeira observação.
Mas talvez seja injusto não lhe ceder um olhar mais atento. O primeiro filho, é o sonho concretizado e, simultaneamente a junção de todos os medos de uns pais na sua primeira viagem de pais. Tudo é novidade e vivido à flor de pele, se o bebé chora é o caus, o que quer, o que tem, o que pode acontecer se não o conseguimos silenciar? Os pais desejam que o tempo passe rápido para que o bebé fale e assim já  possa dizer o que o incomoda. E o tempo faz-lhes a vontade voa, de repente voltam um olhar saudosista para os momentos em que o bebé só comia e dormia. Agora corre tudo, cai, chora, grita, faz birras terríveis, os pais em desespero, telefonam, aos avós, aos irmãos, aos amigos. Depois vem o segundo filho, o primeiro entra numa fase complicada, como todas, já que vão descobrindo, que todas as fases têm a sua problemática. Não há muito tempo para divisão de atenções, ainda bem que o segundo bebé ainda está naquela fase maravilhosa do come e dorme e agora esperam que ela se prolongue por muito tempo. Quando se apercebem chega o terceiro filho, e o segundo que começara a saborear o papel de ser o mais novo vê-se deslocado para o centro. O mais velho, já conquistou alguma autonomia, o do meio sente-se “entalado” não foi o primeiro não recebeu a junção de todos os medos e expectativas, não é o mais novo, por isso não recebe os mimos de ser o último. Porque o último, esse sim, é agora o bebé, numa infância eternizada, sabe-se lá por quantas décadas. Os pais carentes de um caminho a dois criam esse espaço, dividem responsabilidades pelos irmãos, o mais velho, bate com a porta, está a entrar na fase da adolescência, um bebé nos braços é a última coisa que quer a impedi-lo de voar. O do meio, tem mais restrições, ainda é demasiado novo para sair com os amigos, fica em casa, embala o bebé, dá-lhe a papa, muda-lhe as fraldas. No início sente-se envaidecido com essa tarefa, com o reconhecimento de que é responsável, mas depois cresce-lhe um peso no peito, porque algures neste processo esqueceram-se que também ele era criança, que precisava de brincar, brincadeiras próprias da sua idade e não de adultos. Os pais só têm tempo para os problemas do filho mais velho e para mimar o mais novo, o do meio, claro que o vêm mas continuam a delegar-lhe demasiadas responsabilidades, tem que cumprir as expectativas que o primeiro filho não cumpre e, apreciar a infância do mais pequeno, prolonga-la porque sabem que esses momentos não voltam mais.
Mas e o filho do meio? Aquele que ficou “entalado” entre fases de quem cresce e quem nasce. Olho para o meu sobrinho do meio e desejo abraçá-lo, embalá-lo, quero  sentar-me no chão e construir com ele brincadeiras de uma infância perdida, antes que a adolescência o roube de mim e um adulto surja, incompleto no seu trajeto de crescimento.

Sem comentários:

Enviar um comentário