quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Post.it: As nossas metas



Todos vivemos de metas que se vão estendendo para além do estabelecido, a dieta adiada, a arrumação que fica suspensa até um dia sempre diferente no calendário. A decisão retardada até que o inevitável aconteça, talvez alguém a tome por nós. O grande projeto de vida protelado à espera de um incentivo. Aquela compra atrasada com receio dos contornos da crise. A venda delongada porque nem a crise justifica tudo o que se perde. A vida pendurada no balanço de cada momento, diferida para um instante mais propício, prorrogada para que escoe livremente sem que tenhamos de a conduzir, de cavar sulcos, por onde siga no rumo certo. Porque concluímos um dia que não sabemos se o que julgamos certo neste momento não se revelará o mais incerto  no outro.
Mas quando foi que a coisa se começou a complicar?
Talvez, logo no dia em que nascemos. Bem podia ter nascido sob outro signo do zodíaco, quem sabe com outras características mais favoráveis. Ou num berço de ouro, protegida por fadas madrinhas sempre dispostas a agitar a sua varinha de condão para me cobrirem de mimos.
Ou quem sabe, noutro meio ambiente, nas profundezas marinhas, ou no reino animal. E hoje seria uma ninfa lusíada, ou uma leoa espraiada na minha corte de sol africano.
Em vez disso, sou o que sou, herdeira dos meus genes, filha desta terra, desta cultura, deste pessimismo lusitano.
De vez em quando, tento contrariar esta charneca em flor que me invade o peito e, mergulho o olhar na orla marítima para deixar o coração voar, atravessar as pontes e rir dos seus limites, porque as minhas asas não os conhecem e unem todas as margens com laços de amor infinito. Então orgulho-me das minhas células que ainda trazem ventos duma Ínclita geração de navegadores, entro na caravela, estendo as velas  ao vento e grito do cesto da gávea, “estou aqui!”, vestida de coragem, com sonhos que me fazem despertar e adormecer em cada dia, acreditando que conseguirei cumprir a minha meta.
Sem a adiar para outro dia, sem a suspender para uma altura mais oportuna, sem a retardar mais um minuto. Porque o tempo não para e cada segundo conta no relógio da vida.
Essa vida  que nos deram à chegada, para que lhe acrescentássemos um pouco de nós.  Talvez eu não tenha escolhido a vida que tenho, mas a vida que tenho escolheu-me para a representar, para levar mais longe o seu legado de futuro. Todos os anos, celebro-a para me lembrar de tudo o que fiz por ela e de tudo o ela fez por mim, afinal, quer queiramos ou não, estaremos juntas até à meta.


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