segunda-feira, 2 de julho de 2018

Post.it: Se for amizade


A família calha-nos em sorte por laços de sangue, por herança de um passado, por destino de um futuro. Nem sempre é a que queremos, preferíamos alguém diferente, uns pais parecidos com os pais dos meus amigos. Uns irmãos que brincassem com as irmãs. Uns avós que ainda tivessem paciência para aguentar a nossa energia. Uns primos amigos, uns tios divertidos, uns cunhados mais afeiçoados, mas enfim, é o que nos calha.
Já os amigos, esses, escolhemos, há quem eleja pelo pedigree, pela disponibilidade, pela bondade, pelo carisma. Eu escolho os meus amigos pelo olhar, pelo sorriso, pela lealdade, pela dedicação, pela humildade, por serem um pouco como eu, mas também por serem diferentes e assim me completarem.
A verdade, confesso, é que não há uma escolha, há antes, um encontro, uma energia, uma oferta recíproca. Por vezes insisto em contrariar o destino, e invisto em amizades que tentam sê-lo mas nunca ultrapassam a fronteira de um mero conhecimento.
Nessa altura, cresce-me um vazio dentro do peito, uma mágoa, uma dor sem ferida mas, como diz o poeta, chega a doer. Que fazer, um bote quando só tem um remo acaba por andar em círculos, a amizade também precisa de dois “remos” para chegar a algum lado.
A amizade tal como uma flor precisa de ser regada. A amizade tal como uma ave de asa partida, precisa de um curativo para ser livre, poder partir e voltar.
Na família une-nos o sangue, por vezes, nada mais. Na amizade une-nos a vontade, o querer, os traços comuns de um caminho lado a lado, com as naturais separações que a vida nos impõe.
Mas se for amizade, sabemos, que nos havemos de encontrar...

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