segunda-feira, 9 de julho de 2018

Post.it: Planando

 “Cada momento feliz, torna-se um ontem transformado em saudade”.
Então enche-se-me o peito de alegria, porque ele está cheio de saudades, do tempo já ido, do tempo presente e daquele que espero um dia conhecer e transformar em memória que me preencha e me dê vontade de chegar mais além. Porque o horizonte já me chama, porque o amanhã já me reclama. E eu sem pressa, sorrio ao tempo, sim já tive pressa.
Pressa de construir a perfeição, de realizar sonhos mesmo antes de os sonhar. Queria porque queria, ser feliz; queria porque queria este, aquele e o outro amor, não, não era por leviandade, mas pelo desejo fugidio de viver num só instante a eternidade de todo o existir.
Era a juventude, essa juventude que não se contabiliza em anos mas em palpitações, em deslumbramentos do coração. Ou talvez porque já ao longe adivinhasse que a velocidade da esperança abrandaria, que a sede de infinito caberia um dia na palma da minha mão e não se perderia mais por horizontes do olhar.
Digo-o sem melancolia, sinto-o sem pesar, vivo-o sem amargura, porque tudo se transformou em suave ternura. Por vezes ponho a mão sobre o peito, como que acariciando o coração, falo com ele das nossas aventuras e desventuras, ainda não velho, talvez apenas um pouco desgastado, descompassado.
Já não voamos cortando o vento, rompendo as nuvens, brincado com os raios solares. Hoje, planamos, saboreando as correntes de ar quente e pairamos sobre o luar. A vida, essa, tornou-se-nos um jardim de flores que colhemos com a similar delicadeza com que a natureza a faz desabrochar. 
Um certo ar outonal, que ainda tem sorrisos primaveris, espreitando irreverentes, pelos cantos furtivos do olhar. Cada instante da vida é único, porque, irrepetível e feliz, torna-se o melhor, deste agora que é, totalmente nosso.

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