sexta-feira, 25 de maio de 2018

Post.it: Virtualmente (amiga)

Tenho uma amiga, ou melhor tinha, melhor ainda, achava que tinha.
Daquelas amizades modernas, daquelas em que não cruzamos o olhar, daquelas em que não partilhamos sorrisos. Não há beijos na face, não há abraços, nem um ombro de consolação. Uma amizade virtual, mas a que nos habituamos a sentir como real, porque nos preocupamos, porque questionamos se está tudo bem, porque contamos os nossos momentos, porque revelamos segredos que talvez não tivéssemos coragem de revelar se estivéssemos frente a frente. Uma amizade sem receio de se expor porque a sentimos efemeramente (eterna). Era uma amizade perfeita, à distância de um clic, a decisão de estar ou partir estava na nossa mão quando simplesmente carregávamos num botão acendíamos ou desligávamos a nossa (amizade).
Imagino que devem estar a pensar que a minha amiga era um robot, a (Sophia) que anda por aí nos anúncios da televisão a falar com figuras VIP, um dia destes ainda a vejo a conversar com o nosso 1º Ministro ou a abraçar o Presidente da República. Mas não a minha amiga é humana, de carne e osso, humana no sentir, no viver, no sofrer até no sorrir que não vejo mas leio, nas palavras que escreve. 
Ela anda por aí, na sua vida, por vezes, esporadicamente, até na minha. Tem os seus compromissos, a sua profissão, a sua família. Vivemos no mesmo país, sob o mesmo céu, o mesmo sol, o mesmo luar, separa-nos ou une-nos o mesmo rio. Já temos um passado, já temos uma história, pequena como um conto que um dia contaremos aos netos enchendo-a de detalhes imaginários para colmatar as lacunas que sempre existem numa amizade virtual como a nossa. 
Nessa altura, encolhemos os ombros, sorrimos e desculpamo-nos, dizendo que a nossa memória que já não é a mesma, coisas da velhice, acrescentamos com humilde ingenuidade. 
Tenho uma amiga, ou melhor tinha, porque uma amiga, que é amiga, ainda que  virtual, ainda que distante, preocupa-se, cuida da sua amiga, sobretudo quando ela está doente. 
Talvez não a possa visitar,  dar-lhe um ramo de flores, uma caixa de chocolates, mas pode enviar uns terabytes de conforto, uns gigabytes de aconchego, uns megabytes de estímulo ou quiçá, até, um pequeno byte de alento. 
Porque é essa oferta real ou virtual, é essa dádiva ao outro que nos diferencia das máquinas e faz com que a amizade independentemente do meio como nos une e da distância, se torne verdadeiramente real.

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