terça-feira, 15 de maio de 2018

Post.it: Cheguei e...

Cheguei e...
Nada! Não aconteceu nada, ninguém deu pela minha chegada. Tinha imaginado que faria uma  entrada triunfal, como se fosse um herói  que regressa da batalha.
Tinha vestido a minha melhor roupa, aquela que a minha mãe deixa guardada só para ir à missa e que ao chegar a casa de imediato me manda despir. 
Pus gel no cabelo, quer dizer, não é bem gel, mas o creme das mãos que a mãe usa, faz o mesmo efeito. Usei o mesmo creme para engraxar os sapatos e estes ficaram com aspecto de novos, apesar de já os ter herdado do meu irmão mais velho. 
- Estás tão lindo!, Dizia a minha avó e eu acreditei, apesar de ela ter cataratas há mais de 10 anos,   porque está na lista de espera para a cirurgia num hospital público. 
 Até pus perfume ou como disse a minha mãe,” tomei banho dele”, afinal nem é dos caros, compra-se nas lojas dos chineses, “mais barato que a água” diz o meu pai no seu avido de  que se devia evitar os banhos porque há falta de água  porque tem chovido pouco. 
A verdade é que estava um miúdo “brutal” de giro, como costuma dizer o meu irmão na sua gíria de adolescente. 
Sonhei tanto com esta festa, nem dormia só para a visualizar acordado, ia chegar, entrar e a Mariana, a miúda mais gira da escola,  ia olhar e ficar de imediato caidinha por mim. 
Por fim, alguém deu pela minha presença e, até elogiou a minha aparência... 
Alguém deu pela minha presença e até elogiou a minha aparência… 
- Joãozinho, estás tão bonito, pareces um homenzinho. Quem diria que tens 7 anos? 
Olhei-a com desagrado. 
- Hum? Indaguei num murmuro, um quase ronco. 
- João, sou a mãe da Mariana. 
Sorri, não um sorriso pleno, mas foi o melhor que consegui fazer naquele momento. 
Bem, pelo menos agradei à futura sogra. 
Só que cheguei e… nada, mas mesmo nada foi como eu sonhei…



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