sexta-feira, 11 de maio de 2018

Post.it: Esta juventude (quieta)

Por vezes,  é preciso rir das nossas lágrimas, chorar do nosso riso. Encontrar no  contras-senso o consenso para que a vida tenha nexo, para que cada momento do dia ganhe sentido. E tudo são circunstâncias, coincidências de energias ou anomalias mais profundas da polaridade positiva ou negativa.
Em tempos cada vez mais remotos, ia-se à luta, conquistava-se o espaço e a ilusão de que também dominávamos tempo. Eramos heróis da nossa história, da que vivíamos, da que  inventávamos ou acrescentávamos às nossas memórias, e também às vossas. Precisávamos de preencher vazios, hiatos de vivências, chamámos-lhe sonhos, porque os criávamos e poucas ou nenhumas vezes os concretizávamos, mas isso, na verdade nem nos magoava.
Hoje espera-se, espera-se simplesmente porque “o que é nosso para nós virá”, dizem, nem sei se convencidos disso, ou se para justificar a sua inércia. E assim vão ficando, quem sabe se o vento ao virar para o seu lado  trouxer a concretização do seu direito por privilégio de nascimento, se as ondas fizerem de si seu cais. Porque já não remam contra ventos e marés, querem que venha, que os envolva com merecida de felicidade.
Sinto-me verdadeiramente “cota”, sou talvez de outra geração, de outra mentalidade, de outro fervor, de um tempo em que a felicidade conquistada nos enchia de orgulho, agora tudo parece encher-se de cansaço. A felicidade que chega e se oferece enche-os apenas de vaidade, olham sem a ver, recebem-na sem a abraçar. “Foi ela que quis vir, foi ela que me escolheu, para quê a sublimar, cuidar dela, afinal se ela partir, outras, muitas outras hão de vir”. Sim, talvez, ou quem sabe, não.
“Tudo acontece no momento certo, simplesmente porque tem de acontecer” e só têm de aceitar, sem valorizar, sem sequer saber apreciar, sem perpetuar.
Que saudade do tempo em que se plantava para colher, em que se desejava, lutava e quando lá chegávamos a conquista tinha o sabor doce da vitória, entrava-nos no peito, dançava-nos na alma, chorávamos de alegria, riamos até às lágrimas e de repente, tudo fazia sentido, tudo na vida se encaixava como se tivesse encontrado a sua forma perfeita. Mas eles, eles a quem tanto protegemos, que amparamos mesmo antes da queda, que suavizamos os passos, que curamos as feridas mesmo antes de se magoarem, caminhamos com eles no colo do coração, abraçamos, amamos, damos-lhes tudo o que nunca tivemos, damos-lhe o mundo e fazemos deles seres sem sonhos, sem metas, sem desejos por realizar. Porque é tudo deles pelo direito de nascer e de estar vivo.
É pena, mas eles acreditam que o universo é todo assim…



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