sexta-feira, 2 de março de 2018

Post.it: Dramas de uma mulher do século XXI

Sou uma mulher ciumenta, assumo! Mas que fazer sinto-me demasiadas vezes sozinha, traída, abandonada, esquecida…
O meu marido fica horas a ver televisão, sobretudo os jogos de futebol, o meu filho leva o dia inteiro a jogar na consola de jogos, a miúda está sempre a teclar no smartphone conversando com as amigas, até o mais pequeno prefere brincar com o tablet do que ir correr no parque, porque está sol, está frio, sei lá que mais...
Outro dia fui ao médico, que diga-se em boa verdade também não me ligou a mínima, entrei e mal me olhou, baixou os óculos “tirou-me as medidas” e  voltou a fixar o olhar no computador, - Ora diga lá o que a traz cá.
-  Cansaço, tristeza, solidão, uma dorzita aqui, outra acolá… Respondi-lhe.
Não me deu resposta, escreveu, escreveu e depois tentou imprimir uma receita para me  despachar, a consulta só pode demorar no máximo 15 minutos,  mas a impressora não quis colaborar, teve um bloqueio “existencial” e lá ficámos ambos a olhar com curiosidade para ver se a dita  cuja, maquineta ia ou não “cuspir” a folha com o nome do remédio milagroso para as minhas maleitas. Coisas “próprias da idade” dizem-me para me consolar, mas tenho para mim que a causa principal, está nas novas tecnologias que me vão fazendo sentir cada vez mais “dispensável”. Confesso já lhes tenho raiva, fico furiosa de ciúmes!
Uma noite destas quando estava com uma das minhas insónias, o meu marido deixou escapar num suspiro o nome de uma Sofia enquanto sonhava, surpreendida, abaneio até o acordar.
- Estavas a sonhar com uma Sofia? Quem é essa?
Estremunhado de sono e surpresa, disse que no seu sonho estava na web summit a falar com a robot Sophia, aquela criatura de inteligência artificial que disse com ar arrogante que nos vinha roubar os empregos, mas será que também vem “roubar” maridos?
Desabafei com uma amiga os dissabores da minha vida, mas ela estava demasiado ocupada em encontrar no GPS uma forma mais rápida de ir até ao centro comercial fazer compras.
Cheguei a casa a atirei-me para cima do sofá, quase de imediato recebi o meu cachorro aos pulos sobre mim.
– Só tu é que me ligas não é meu cãozinho?
Como se me quisesse dizer algo, lambeu-me a cara e correu para a máquina lançadora de bolas automático, num apelo saltitante.
– Ok, já percebi, queres que ligue a maquineta para jogares à bola, não é? Nem tu precisas de mim para  brincar, basta que ligue o botão e ficas horas a apanhar bolas que a dita máquina te lança. 
Bom, do mal, o menos, pelo menos não preciso de cozinhar, a Bimby encarrega-se disso. Ponho a roupa na máquina e ela lava-a, tiro dessa e coloco na outra que a seca. A loiça também vai para a máquina e pronto fico com mais tempo para conversar com… alguém, no facebook.

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