sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Post.it: Projeto

Eu sou aquilo que nunca fui, projeto inacabado de um sonho que alguém sonhou, mas que não aconteceu. Chorem as plantas, os rios, as rochas, por mim que nunca aconteci. Riam os mares, as florestas, as pedras da calçada por mim que existo na curva de uma estrada inacabada.
Quem se esqueceu de escrever o meu destino? Quem desistiu de me desenhar a vida? Quem me roubou os passos antes de os chegar a pousar no chão?
E agora? Que faço com tudo o que trago comigo, este saco  de esperança, esta fé do que ainda posso ser. Só preciso que o sol me brilhe um pouco e que o luar não me apague.
Que as ondas me levem até à costa e que os mares não me afoguem. Só preciso que as flores me encham de primavera e que os espinhos não me magoem. Que as margens do rio me sejam suave companhia sem estreitar ou limitar-me o percurso.
Só preciso de ti para  melhorar  os meus dias mesmo que me escureças as noites. Quero ser o que nunca fui, o sonho progenitor tornado realidade: a filha, a irmã, a mulher, a vida, a célula não degenerada, o ADN imaculado. 
Se há arquitetos no céu, que encontrem as linhas do meu esboço. Se há criadores no universo que  me moldem em verdade, sabedoria e liberdade. Se há energias de atração que me tragam uma simples luz de farol mesmo que sem nele haver um mar. Se há felicidade, que me encontre, espero-a, na morada do meu viver
Se me conceberam como projeto inacabado, que encontre a capacidade, a vontade, a possibilidade de me tornar a concretude nem que seja no corpo de gotas suspensas na curva completa do arco-íris.

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