terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Post.it: Horizontes

Há dias em que ao acordar apetece-me continuar a sonhar, a voar na liberdade do azul estrelado. E nesses dias, as paredes parecem-me fronteiras, as portas obstáculos a transpor para chegar mais longe.
Apetece-me caminhar, caminhar sem parar, até à exaustão. Tenho sede de infinito, tenho fome de horizontes. Sinto-me prisioneira na vida, cercada pela morte a minha e a dos outros. Sinto que as constantes rotinas me encarceram, que as obrigações me guilhotinam o ânimo. Então fecho os olhos e permito-me ser livre, permito-me abrir as asas do pensamento e partir à descoberta do sol, não o que brilha resplandecente bem alto no céu, mas o sol que me inebria a alma, que aquece cada célula do meu ser.
De repente, mergulho a pique na corrente do meu sangue e partilho-me com cada globo vermelho deste rio tépido, seguimos na mesma descida, subida, por cada curva abismal.
Numa corrida cheia de perigos, mas também, cheia de esperança, pela certeza de que não há meta mas sempre, continuidade. Uma continuidade que nos fortalece e incentiva a fazer desta viagem a melhor viagem possível. Haverá sempre a seguinte, sim, talvez seja verdade, mas nem por isso nos acomodamos. Temos de tentar que cada uma seja sempre melhor que anterior, mais feliz a cada passo, a cada onda que nos eleva e faz descer.
Depois abro os olhos, saio desse instante de torpor, estou cansada e descansada, sei que fui, sei que voltei, um suspiro solta-se do peito, navega-me até aos lábios e esvoaça, deixo-o partir, não chego a invejá-lo na sua leveza e liberdade. Uma liberdade que também é minha, a cada passo, a cada ideia, cada momento, só meu ou partilhado. 
Percebo então que já não preciso de vastos espaços, de carregar  as malas, de sair, posso simplesmente permanecer, e nessa permanência, encontrar a forma mais elevada de voar a felicidade porque na verdade, só tem paredes quem se aprisiona por elas, quanto a mim, já não “tenho paredes, só tenho horizontes” (M. Quintana)

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