quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Post.it: A paisagem

A paisagem é sempre o que quisermos, essencialmente o que somos, porque ela é vista por um olhar, apreendida por uma consciência, valorizada por uma experiência, julgada por uma estética, apreciada por uma moral, desenvolvida por uma política. Quando a paisagem nos entra pelo olhar, sobe à consciência e é analisada pela experiência, tocada pela beleza da estética e observada pelos valores individuais de cada um. E numa tentativa de harmonia a razão insurge-se em prole do naturalismo com argumentos científicos, mas o coração, num compasso descompassado entra na discussão, acelera-se-lhe o sangue cresce o fulgor – a fé. Só a fé, responde – pode conceber tal natureza dessa paisagem que se nos oferece.
Enquanto isso, o sol, alheio aos debates da ciência, do humano ou da religião, continua no seu trabalho, quase missão de florescer primaveras, de aquecer verões, de iluminar invernos, de aconchegar outonos. O vento sopra gargalhadas pela vã disputa, as árvores erguem-se em majestosa indiferença, o céu desinteressado de tal disputa, continua a estender o seu manto azul sobre o dia, o mar no seu vai e vem tenta escutar, tenta quem sabe, até algo acrescentar mas o movimento contínuo das águas fá-lo desistir. As rochas numa imponência desafiante obrigam a um renovado e atento olhar, como as explicar?
De repente um silêncio que nos mergulha no peito, calam-se as dúvidas, emudecem as científicas certezas; quanto tempo se perde na tentativa do Saber e tão pouco nos fica para o Sentir.

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