quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Post.it: O barulho

“O bem não faz barulho e o barulho não faz bem”.

Ouvi esta frase, que quase parece um trocadilho, há muito anos, tocou-me fundo no peito, moldou-me os sentidos, fez-me crescer num repentino despertar de aprendizagem.
Quem me dera que me tivesse sido dita antes, muito antes, quando ainda mal soletrava as letras, quando o mundo se revelava meu e eu ingenuamente, egoisticamente acreditava. Segui pela estrada fora exigindo a vassalagem das pedras, subordinação das árvores, submissão dos mares, sujeição dos ventos, exigindo um céu azul, um sol brilhante. Criticava a vida, obrigava, gritava direitos de puro nascimento, fazia barulho, tanto barulho que passado um tempo, só o silêncio escutava.
O silêncio que como um pai paciente e amoroso, esperou até aos últimos resquícios de fulgor, pelo pacificar da alma, pela ternura, pela calma. Então, só então, como quem fala de banalidades, lançou discretamente aquela frase.
 Escutei-a, repeti-a uma, mil vezes, buscando-lhe o sentido e de cada vez que a murmurava no pensamento, soava-me diferente, mais intensa, mais verdadeira, mais necessária, mais urgente.
Abracei-a, senti-me abraçada por ela, não como um encontro, mas um reencontro. Como quem sabe que algo de importante, de essencial existe mas que ainda não se cruzou com ela. Quando há o encontro, acontece o reconhecimento, envolta numa espécie de saudade “esperava por ti, como demoraste…” Sim, podia dizê-lo, porque o senti, mas o que importa…, o que importa é que chegaste.
Talvez na hora certa, quando estava finalmente preparada para ti. Para te receber em mim e te transportar no peito e quem sabe um dia oferece-la como se fosse banal, até porque devia ser, se nos fosse naturalmente inata, uma célula que herdamos ao nos tornarmos vida.
 E tu estás preparado para ela? Só tu, com todos os teus sentidos, todos os teus valores e vivências, o saberás. Se esta frase te tocar, te enlaçar e tirares dela algum sentido para o caminho, então, sim, estás...
O bem não faz barulho, cada oferta que damos à vida, de ser feita sem alarde, ela sabe agradecer, sabe retribuir.
O barulho não faz bem, incomoda, magoa. É um gesto de quem não se importa com o outro. Por vezes, muitas vezes, só o silêncio entende, só no silêncio está a solução, quando o barulho que nos vai crescendo por dentro já não consegue escutar a voz do coração.



Sem comentários:

Enviar um comentário