segunda-feira, 1 de julho de 2013

Post.it: Na fronteira

Tive a sensação que conheci a fronteira do mundo. Uma sensação que não foi feita de luzes, de reencontros com entes perdidos, de paz de ou de guerra. Talvez não tenha chegado tão perto, a essa transposição abismal.
A minha triste verdade é que não senti nada, absolutamente nada, só a surpresa e a dúvida, ou melhor a imensidão de dúvidas quando vi o resultado do exame e depois o vazio, como se me tivessem arrancado, não da vida, da vivência da morte. 
A médica sorriu, encolheu os ombros, que importava tudo isso se continuávamos ali, correu mal, sim correu, mas fora resolvido a tempo e mantido no segredo dos deuses. Restavam as imagens, um testemunho estranhamente mudo, e o relatório de procedimentos, uma injecção de adrenalina que paguei para nem sentir de olhos abertos a sua sensação.
Foi como se tivesse comprado o bilhete para fazer body jumping  e depois um outro compromisso me impedisse de concretizar esse objectivo. Com uma vantagem, pelo menos tinha conhecido o formigueiro da antecipação, neste caso, não senti nada, absolutamente nada, puseram-me o coração aos pulos, abanaram-me os sentimentos, estremeceram-me o passado, oscilaram-me o presente e  abalaram-me a estrutura  do futuro, por um segundo, um minuto, uma hora, não sei, apanharam-me a dormir e reescreveram-me o destino e eu o tempo todo a dormir, a sonhar talvez.... 
Depois, felizmente não me deu para encetar longas reflexões, sobre o que podia ter perdido, o que podia ter feito diferente, para grandes mudanças, grandes arrependimentos. Acordei nesse dia, continuei a acordar nos seguintes com o mesmo espírito a mesma vontade de caminhar não necessariamente para a fronteira do mundo mas para a fronteira da felicidade.