terça-feira, 15 de outubro de 2019

Post.it: Efémeras viagens

Por vezes somos como navios a navegar pelos mares da vida. Lutando contra os vendavais, rasgando as velas, partindo a quilha, perdendo o leme. Seguimos um rumo sem rumo como se fossemos despojos da cada uma das nossas batalhas. Ofuscam-nos, seduzem-nos aqueles barcos, de proa erguida. Vaidosos iates, imponentes veleiros. Parecem tão sólidos na sua majestosa fortaleza, na sua imagem de grandeza.
Mas também o era o Titanic e afundou-se. Dizem os sussurros da cobiça que se afogou na sua presunção, sucumbiu na sua ostentação.
Ergo os remos, sem fazer juízos, afinal, todos navegamos nas mesmas águas. Que nos embalam ou que nos afundam. Revelando a vulnerabilidade do nosso existir.
Que importa a dimensão, se é navio, bote ou apenas uma periclitante jangada, se todos os corações são de tamanho igual? Resta saber se guardam a fiabilidade de um mesmo sentir.
Que importa a imagem de magnificência, o fausto que nos pode inebriar, se lá dentro for minúscula a capacidade de se dar aos outros em generosidade e tolerância.
Deixemos-nos de sonhos, estendamos redes de amizade por esse vasto oceano para lhe pacificar as águas e curar as mágoas. 
Deixemos-nos de arrogâncias e snobismos que não tornam o caminho mais fácil de ser navegado. Por vezes é preciso parar, lançar âncora num cais que há tanto nos espera depois de nos ter visto partir para as nossas sempre efémeras viagens.


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