segunda-feira, 13 de maio de 2019

Post.it: Infância perdida

Há uma espécie de orfandade em quem cresceu sem ter conhecido uma infância feliz, em quem, nessa idade, não fez o quis,  não voou nos seus sonhos, não mergulhou de alma nua nas águas de um mar veraneante e sem o saber afogou-se sem afogar as suas mágoas.
Há uma espécie de desamparo nesse crescer com a  falta de um abraço no começo do dia, a falta de um beijo ao adormecer, uma história contada para encantar, uma mão que te leva em segurança e confiança pelo caminho.
Há uma espécie de abandono,  um silêncio que se esqueceu de nos murmurar no peito as palavras que precisamos de ouvir para aprender a sorrir, invisível aos olhares desatentos, há uma lágrima que cai dentro do coração e ninguém lhe ampara a queda.
Há uma espécie de solidão neste viver arrastado como quem carrega a herança de nada ter dessa infância que não aprendeu a brincar.
Há uma espécie de ausência, dos outros e de si própria, criança que nunca o foi porque lhe disseram que tinha de se comportar como uma menina crescida. E ela cresceu, não em tamanho, não em idade, mas em maneira de ser e estar.
Há uma espécie de vazio, um eterno e estranho frio, como se fosse um pequeno passarinho que caiu cedo demais do aconchego do ninho e teve que voar sem ninguém lhe dizer como e teve de seguir o caminho, sem ninguém lhe dizer qual.
Há uma espécie de nada, arrancado ao tudo, que nos deixa incompletos, enquanto procuramos pela vida fora a criança que tentámos ser mas que nunca fomos.


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