terça-feira, 17 de abril de 2018

Post.it: Boas leituras

Não gosto de escrever assim, como quem arranca flores à primavera e de repente, perdem-se as cores, perdem-se as sensações mais doces, resta apenas um certo vazio no peito, um opaco no olhar e na boca um silêncio cheio de palavras abstractas. Chamam-lhe escrita moderna, uma escrita que se lê veloz e se acaba cansado como quem vai ao ginásio exercitar o corpo e se esquece da mente. Como quem acelera o coração atrás de uma emoção e quando a apanha, sofre uma decepção, não era ela, apenas era parecida com aquela, aquela com que sonhamos e que acordamos sem a chegar a abraçar.
Sim, porque, hoje na escrita, fala-se com demasiada ligeireza de abraços, mas eles nunca nos chegam  a aconchegar. Fala-se de beijos que são deitados ao ar como se fosse um bouquet de noiva, que todos querem apanhar mas nunca apanham.
Mas é escrita moderna, quem não a reconhece, quem não a aprecia, é catalogado de antiquado, retrógrado e uns quantos mais piropos.
E depois, escrevem-se linhas e linhas com palavrões e ultrajes…, linguagem popular, dizem. Estão no dicionário, afirmam,  com as armas literárias de quem as usas sem ter noção do quanto podem ser letais. 
Então, pego nas minhas páginas rabiscadas, porque sim, é assim que as vejo quando as comparo com a tamanha eloquência da novas tendências de moda literária, arrumo-as na gaveta. Dizem que a moda é cíclica, quem sabe um dia, voltam a estar em voga os sentimentos mais ternos, as frases mais extremosas, as palavras mais polidas, a delicadeza dos termos, a cortesia das expressões e o que se escreve ganhe novamente um sentido de viagem que leva o leitor pelos rios da fantasia, desembocando no mar das emoções e depois de vendavais, a bonança de um fim, não necessariamente feliz, mas que nos deixe algo em que pensar, que nos preencha de prazer e de uma felicidade que só conhece quem lê um bom livro.


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