segunda-feira, 5 de junho de 2017

Post.it: O espanto

Continuo a surpreender-me comigo, com os outros, com a natureza vegetal e animal. Continuo a descobrir-me em mim e nos outros. Continuo a crescer nos sorriso de uns ou a diminuir no silêncio de outro. Continuo a caminhar na direcção de quem me espera e a afastar-me na direcção de quem já nada me diz.
Continuo a ter coisas para dizer mas na maior parte das vezes nada digo, porque eles já sabem a verdade, para que repeti-la e voltar a tocar nas mais profundas feridas.
Continuo a fazer coisas, cada vez menos, falta-me o tempo, a vontade, o empenho, a dedicação, desculpas de quem já não as quer fazer, se ao menos aparecessem feitas…
Continuo a sonhar, cada vez mais, apenas quando durmo, e durmo cada vez menos, coisas do meu relógio biológico que passou a dormir nos minutos e a viver nas horas.
Continuo a virar a página do calendário, não para saber como se arrumam os dias nos mês seguinte mas para ter a certeza de que o mês anterior não se vá arrepender e querer repetir-se.
Continuo a contar a estrelas do céu, são cada vez mais, alegra-me a sua luz cintilante. Quando era criança diziam que eram a alma de quem tinha partido para o céu e eu incrédula na minha crédula expectativa procurava com olhar ávido pela prima Graciete, pelo Adelino, pelo Sérgio (da Conceição), se lá estavam não sei, mas entristece-me pensar que há cada vez mais estrelas, mais almas?
Continuo a deixar-me navegar por pensamentos e fantasias, este meu lado de criança que não cresce nem que viva 100 anos, que conheça da dureza da estrada mil vezes palmilhada, que me roubem os sonhos, que me queiram invadir de medos, que os fracassos superem as vitórias, haverá sempre em algum lugar de mim um velha e doce história, cheia de moral e de luz. Porque, sim, continuo a acreditar que há luz por detrás das nuvens mais cinzentas e que a chuva não serve apenas para nos molhar mas para fazer desabrochar no nosso jardim as flores da esperança.



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