sexta-feira, 7 de abril de 2017

Post.it: Males necessários

Há dores que precisamos de sofrer não por masoquismo mas para perceber a felicidade que elas nos trouxeram. Controversa a ideia, afinal ninguém gosta de sofrer, pelo menos voluntariamente. Mas a verdade é que quando olhamos para trás contemplamos para essas dores com carinho, companheiras silenciosas dos nossos passos, avanços e recuos. 
Não nos deixam saudades, também é outra verdade, mas deixam lições que aprendemos com dificuldade, por vezes com recusa em encara-las, mas acabamos derrotados para um dia vencermos, dizem-nos vozes amigas com palavras que nos acariciam a auto-estima. 
Cada final por mais doloroso que seja, pode significar uma nova oportunidade, mas quantas oportunidades temos? Costuma-se dizer, que podemos ter uma segunda oportunidade, prefiro acreditar que temos todas, todas as que nos surgirem, todas as que construirmos, todas as que estejamos despertos e recetivos para elas. A vida está cheia de oportunidades, estão algures à nossa espera, desencontramo-nos de umas, mas há sempre outras para serem encontradas.
Claro que por vezes nada faz sentido e sentimos o destino perdido. Então paramos, tentamos encontrar o rumo da nossa história. F. Pessoa dizia que “somos autores da nossa história” e cada vida pode, talvez acrescentar; estamos de mão suspensa no tempo à espera de escrever o nosso futuro.
O sol brilha, é bonito, enche-nos de luz e de energia, de sorrisos, de planos para o convite do dia em ser plenamente vivido, sim; mas o sol também queima, magoa-nos a pele, encandeia o olhar. A noite é escura, mesmo nos dias de luar, a escuridão é má conselheira com ela tudo nos parece maior e mais doloroso nada, mas só na escuridão conseguimos ver as estrelas. Porque nada mas mesmo nada é inócuo de bom e de mau, é preciso em cada situação, em cada ferida aberta, encontrar a medida certa, o equilíbrio, a harmonia para a receber, para a curar, para a tornar menos dor e mais, cada vez mais, amor.
E lá volto a “ouvir” as palavras de Pessoa “Pedras do caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo”, tantos castelos que vejo por aí, alguns tão majestosamente erguidos, outros ainda em construção. Quero acreditar que o meu, um dia, terá a dimensão manifesta de tudo o que sou, espero, então, sentir-me grata por cada uma dessas pedras, reconhecendo a sua, talvez dolorosa ajuda, para criar  o caminho que me trouxe até ao que sou.


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