segunda-feira, 24 de abril de 2017

Post.it: Liberdade sim...

Houve um tempo, demasiado tempo em que as vozes da liberdade combatiam  por entre sons de murmúrios. Havia medo, não das forças da autoridade enquanto forças de lei, que lhes dava mais incentivo, mais coragem,  mas da sua incompreensão e intolerância activa.     Lutava-se por causas justas, defendiam-se direitos de integridade, de legitimidade, de verdade, de liberdade. Queria-se ter o direito de dizer não e que cada sim fosse fruto de uma opção não condicionada.
Houve um tempo, lembro-me dele, mais pelo que me contaram do que por o ter vivido, ainda não tinha idade para compreender o que significava ter o espirito enclausurado, as ideias agrilhoadas, os sonhos acorrentados, os desejos presos condenados sem julgamento e sobretudo, sem culpa.
Houve um tempo que até era quase proibido rir, e com medo, riamos e chorávamos da nossa desgraça apenas nas quatro paredes do nosso lar.
Quarenta e alguns anos depois de acontecer o 25 de Abril, muito mudou, quase tudo mudou, ou talvez não.
Hoje tornou-se proibido proibir, e diz-se tudo, o importante e o que não interessa, porque há quem tem necessidade de falar gritando com palavras vãs, só para, talvez, ouvir mais alto que a voz dos outros, a sua.  Numa  “revolta” de tudo, ou apenas de não saber crescer com respeito pela sociedade onde vivem. Uma sociedade que talvez não os saiba abraçar, que  não os aconchega num leito de carinho, que  não lhes dá tudo o que desejam.
Mas, sempre assim foi,  a vida é feita de conquistas e não de direitos por nascimento.  Devemos-lhe respeito por todos os que a compõem  e sobretudo, respeito por nós que a pisamos, julgamos, condenamos esquecendo que ela é unicamente o  retrato de cada pessoa que a destrói em vez de a construir.
Hoje que há aparentemente liberdade para tudo, erguem-se bandeiras de alforria e aqui e ali rouba-se a liberdade dos outros, entram nas suas vidas, obrigam-nos a ouvir a sua “música” poluente dos nossos sentidos, aceleram nas estradas e atropelam-nos a vontade. Já não são as autoridades, são pessoas como nós, pessoas ávidas de si, indiferentes a todos os outros.
Precisamos,  não de outro 25 de Abril, mas de recordar os seus valores, de que liberdade ele nos trouxe. 
De homenagear os que pereceram ao lutar por ela, com respeito pela sua conquista, pela sua integridade e lealdade patriótica. Ainda há muitos direitos por conquistar, ainda há muita injustiça social, mas hoje, grita-se tão alto que já ninguém escuta. É preciso fazer silêncio para falar e para ouvir. É preciso fazer silêncio para que a liberdade fale em cada um de nós e nos una num todo de solidariedade, de humildade, de respeito, de maturidade e de plena humanidade.


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