sexta-feira, 17 de março de 2017

Post.it: Sabe-me bem ler-te

Gosto de te ler, mesmo que sejam apenas umas poucas linhas, umas poucas frases, algumas poucas, palavras. Leio-te, releio-te. Encontro as tonalidades da escrita, os diferentes sons que parecem mudar, enriquecer-se a cada leitura.
Ouço-lhe risos, sinto-lhe abraços. Por vezes até lhe encontro uma lágrima caída na perna de uma letra que discretamente se aninha na outra, como se se quisesse esconder, uma pequena gota de água, incauta, e fugidia, mas que se revela na sua timidez envergonhada.
 Olho-a, sinto-a, quase, apenas quase que a recebo nas minhas mãos, com o carinho de quem percebe e compartilha de tal mágoa.
Mas nesse momento, também eu escondo na mais displicente vírgula, quem sabe escorregue e se afogue na branca folha, já não de papel.
Estamos noutra era, dizem os entendidos, que assim seja, pouco importa se os tempos mudam desde que os sentimentos continuem a aflorar com melancólica alegria, com melódica tristeza, é isso que nos define humanos, verdadeiros no sentir mesmo que escondido, disfarçado nos espaços entre linhas, encoberto na ténue união das letras, camuflado no sentido das palavras.
Por isso, gosto de te ler, de te encontrar, em cada linha pintada de sentidos furtivos, de devaneios ocultos, de sonhos secretos.
Gosto de te ler, mesmo quando as palavras demoram, é sempre com alegria da chegada que te recebo. É suave a dor da espera, a ansiedade pela antecipação de algo bom que vamos receber. Pode ser uma missiva curta, um diálogo sem grande conteúdo, mas que importam os grandes lirismos repletos de artificiais sentidos? Basta um olá, de letras pequenas, redondas, carregadas de amizade, carinho, ou apenas de atenção, respeito, admiração. Olá, respondo, Olá? Pergunto, como estás, quero que estejas, onde estiveres, estejas muito bem.
Aí a minha imaginação, aí o meu incongruente coração. Fantasias da solidão? Talvez, quem sabe. 
Só sei dizer que me sabe bem, ler-te…

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