segunda-feira, 27 de março de 2017

Post.it: As visitas

Este fim de semana estive com os meus primos, há quanto tempo não nos encontrávamos? Há muitos. Não questiono as razões, já há muito que saí da idade dos porquês, prefiro aproveitar o momento presente sem questionar o passado. Claro que há culpas que nos ficam desse silêncio que o tempo no seu passar causou. 
Mas quando há amizade, afecto, o tempo não cria distância, talvez pelo contrário, as saudades tornam-se beijos e abraços repetidos e as novidades boas são muitas, as más, felizmente poucas.
Uma priminha casou, já tem um filho com quase um ano, lembro-me dela, era ainda uma menina. A outra já vai no segundo filho, é lindo loiro com cara de anjo e sorriso traquinas. 
Os pais vão envelhecendo, a doença torna-se uma presença quase constante, entristece-me, entristece-nos, tanta alegria, jovialidade de repente roubada pela violência da falta de saúde. A morte, sim também a morte foi notícia, uma notícia má, a pior, recente, sobretudo para quem a recebe inesperadamente.
A prima Conceição, partiu há 7 meses. Lembro-me dela, era a “festa” em pessoa. Enchia uma casa, a sua onde eu entrava e era recebida com “desaforos” algarvios, mas eram de alegria. Na minha casa onde vinha de quando em quando de repente havia uma luz mais luminosa, uma musicalidade de vozes.
Na casa da sua irmã em Sesimbra, aí então, eramos muitos na mesa comprida, mas nada parecia longe, e todos estávamos em harmonia familiar. 
Partiu, não, ficou! As pessoas que nos alegraram, que amamos, que nos amaram, ficam para sempre num recanto de nós. 
O seu marido parece uma vela apagada, caminha triste, devagarf, como quem não tem rumo, “faz-me falta”, foram quase 50 anos de casamento, quase porque faleceu um dia antes de os completar. 
Olho para os meus primos, vejo como estão, lembro-me de como eram, não se trata de alterações no corpo, na face nem os cabelos mais brancos ou a rarear, trata-se do brilho do olhar que lhes fugiu, trata-se do sorriso que empalideceu.
Então concluo, não importa no que nos tornamos, mas o que vivemos, isso permanece em nós. Permanece neles, apesar dos pesares, vejo-o no meu primo Zé Maria, que me ensinou a dançar quando eu tinha 10 anos, tinha vindo da praia com  um escaldão nas costas e nem a sua mão a tocar na pele queimada me doeu  tal era a sua delicadeza, tal era a minha alegria por estar a “dançar” porque realmente sempre fui um pouco “pés de chumbo”, de tão trapalhona, mas ele ria e pacientemente, ensinava-me. Apesar de ter sido um bom professor, confesso, não fui boa aluna.
Gostei de ver os meus primos, mesmo com as partidas, há sempre as novas chegadas para tentar compensar. É o ciclo da vida e aprendizagem que cada um faz dela, aprendi, continuo a aprender. 
A vida é para ser vivida ao longo do seu caminho, pode ser uma boa companhia depende de muitos factores, inclusive da forma como caminhamos também com ela.


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