segunda-feira, 13 de março de 2017

Post.it: As nossas nuvens cinzentas

Ainda o inverno mal se acomodou sobre a terra ainda ávida das suas águas, já primavera ressoa nas vozes que a esperam com braços de abraços de flores e andorinhas. É o tempo  a voar-nos num sopro de vida, e nós incautos sonhadores de pensamentos ao vento, deixamos que nos roubem momentos em que queremos apenas aprecia-los,  senti-los, vivê-los como se tudo parasse e nada tivesse pressa de chegar a algum lugar por longe que seja, por necessário que fosse lá estar em breve.
Assusta-me a primavera, este cheiro respirante de flores que começam a exalar e ainda são apenas botões que não se adivinha a espécie colorida que vai emergir.
Em breve será verão, os sorriso das crianças que se lhes desenha no rosto, fala de férias, de manhãs tardias, de noites longas,  mergulhos na praia, as corridas na areia, anseiam por despir as camadas de roupa e libertar a pele do jugo do frio.
De repente, abraço-me à camisola felpuda, mergulho no quente dos cobertores e sonho que o tempo é a infinitude da vontade de cada um e eu quero, que o inverno seja lento e aconchegante no seu passar, não tenha pressa em regar as flores, em soprar para longe as nuvens e o nevoeiro que nos acalenta.
Sim bem sei que cada estação vem na sua data, que tudo acontece no tempo certo indiferente ao nosso tempo, mas gosto, acreditem que gosto do inverno. Essa estação do ano incompreendida, mal amada, mal resolvida por sentimentos sombrios. Porque quem tem luz no olhar, não são as nuvens cinzentas que vão escurecer o seu céu de esperanças esvoaçantes, de sonhos cantantes.
Não culpem o inverno das vossas dores, da vossa tristeza, quando são vocês, apenas vocês que são tristes.
Afinal não é o verão que os vai animar, que vai curar as vidas magoadas, queixam-se do calor, que sufocam, anseiam por ventos e marés, pelo assentar da poeira das estradas e dos passos cansados.
O tempo, leva sempre com as culpas, as nossas culpas, porque nos foge, porque não nos leva no seu voo em direcção ao infinito. Prossegue a sua marcha sem que consigamos calçar os seus sapatos.


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