sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Post.it: Natal em Novembro


Gosto do Natal em Novembro, quando as luzes coloridas se começam a acender, quando as montras se enchem de coisas bonitas, quando as prateleiras das lojas se enchem de brinquedos sorridentes, reluzentes. Quando as caixas das bonecas ainda estão inteiras, quando as pilhas dos bonecos ainda funcionam e quando lhes tocamos nos dizem olá e outras palavras com infantil doçura. 
Quando as pessoas encasacadas e com cachecóis quase só deixando ver os olhos nos lançam um olhar brilhante e sorridente, parece estranho mas sem lhes ver a boca vemos-lhes o sorriso, estampado na face rosada de frio. 
Gosto do Natal em Novembro, quando ainda não há corrida para as compras, quando ainda não há fila para os embrulhos. Quando ainda sonhamos com um Natal perfeito, em que tudo vai correr bem, que todos vão receber a prenda que desejam, que não há lares de mesa vazia, lares sem família, lares de tristeza, de doença, onde a partida parece eminente onde a dor parece permanente, lares onde o Natal não entra pela porta nem pela chaminé. Mas em alguns desses lares, o amor sobrepõe-se às dificuldades e há noite contrariando o cansaço e o sono, alinhavam-se bonecas de pano, bolas de restos de tecido, para que os filhos tenham no sapatinho um pouco de Natal. E quando nem isso têm para lhes dar, passeiam de mãos dadas pelas ruas iluminadas, levam os filhos para ver as montras recheadas e deixam que sonhem, porque só o sonhar lhes podem oferecer, é grátis, dizem numa tentativa de esperança que a dureza dos dias frios ainda não lhes tirou. 
“À noite, um cházinho e uma fatia de bolo Rei que nos ofereceu a paróquia e está celebrado o Natal, para o ano será melhor, e olhe, desde que haja saúde já nos damos por felizes”, garante aquela senhora com idade indefinida, deve ser jovem, pelo menos olhando à idade dos filhos, essa prole de anos em escadinha que caminham em fila saltitante, são 4. “5 corrige-me a corajosa mãe, abrindo o casaco e revelando uma gravidez avançada, “deve nascer por volta do Natal, vai ser o meu menino Jesus e vai-se chamar Jesus!. Era costureira numa fábrica que dispensou mais de metade dos trabalhadores, e ela veio-se embora, agora faz pequenos arranjos de costura em casa e toma conta dos filhos, “sempre se poupa no infantário”. 
Gosto do Natal em Novembro quando a azáfama ainda não nos sufocou, quando o receio de esquecer alguém ainda não nos criou ansiedade. Quando os dias ainda têm 24 horas, porque depois sentimos que diminuem e rapidamente aproxima-se a festa do Menino. 
Gosto do Natal em Novembro, de o saborear entre um café e a companhia das amigas que começam sem pressa a planear o Natal, “este ano vai ser na casa dos meus sogros, o ano passado foi com os meus pais”, “os miúdos este ano passam a noite de Natal com o pai e a dia comigo”.  
Gosto do Natal em Novembro quando uma espécie de ternura nos começa a envolver e de repente outros Natais vêm-nos à memória, Natais da infância com os pais, avós, tios, primos, amigos, com os que ainda estão já mais velhos mas que ainda reconhecemos pela afabilidade das palavras e pela candura gestos de amizade, outros, já partiram, mas ficaram e estão connosco em todos os Natais.  
Gosto do Natal em Novembro, quando o Menino nos começa a “renascer” na alma e a preparar-nos para a sua festa em Dezembro.   
Quem me dera que o Natal fosse em Novembro, mas também em Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto, Setembro, todo o ano, todos os anos, em todos os lares, em todos os corações. 


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